segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

É gratidão que fala?





Feliz Ano Novo! De novo.

E não é que o tal do 2018 já está indo embora? Ainda bem, porque olha, que ano viu? Não vou dizer que foi ruim, porque foi cheio de coisa nova, algumas ruins, outras difíceis, boas também. Foi um ano intenso; muito trabalho, muito suor, muitas lágrimas, mas, enfim, amanhã já será 2019 e teremos mais 365 dias pra escrever nossa história, deixar nossas marcas no mundo, nas vidas das pessoas e, obviamente, nas vidas dos gatinhos sem lar da nossa querida Blumenau.

Nos últimos momentos de 2018, queremos agradecer pelos nossos desafios e conquistas, vitórias e fracassos. Sem a montanha russa da vida, não vale nem a pena respirar, certo?

Em primeiro lugar, nosso primeiro pedágio, acontecido em dezembro de 2017, mas, essencial para que pudéssemos ajudar tantas vidinhas bigodudas em 2018. Era um sonho nosso, porque só quem é ativo em ONG sabe que as buchas do dia-a-dia são inversamente proporcionais aos recursos financeiros.  Nosso pedágio veio dar um alívio nas nossas finanças, possibilitar  tratamentos e, principalmente, castrar e castrar e castrar gatinhos, evitando, assim, o nascimento de mais filhotes largados pelos matos e becos da cidade. Obrigada pelo pedágio: pra quem doou, quem participou, quem divulgou. Em 2019, se Deus quiser, teremos outro.



Em algum momento do ano de 2018, outro sonho realizado: voluntários pontas firmes, que vieram somar, e muito, em nosso trabalho. Só quem rala em ONG sabe a dificuldade que existe no "mercado", de se encontrar gente comprometida. Muitos ainda acham que ser voluntário é fazer o que quiser, quando quiser, do jeito que quiser (tenho um rascunho guardado sobre o assunto ser voluntário, que precisa ser terminado. Prometo para um dia em breve). Mas, enfim, este ano vieram pessoas maravilhosas, que se doam, se entregam, arregaçam as mangas. Vieram ajudar em capturas, ocorridas na madrugada, em cima de telhados, sob chuva, sol, domingo, feriado; no gerenciamento de redes sociais, resgates, doações e, principalmente, vieram movimentar nosso grupo de whatsapp, que antes não tinha bate-papo e hoje, quando a gente pisca, tem 150 mensagens não lidas lá. Quem vê não imagina que todos nós tenhamos uma vida louca de trabalho. Até nosso Instagram funciona agora! Tudo gente de qualidade, que veio somar na nossa vida. Obrigada, (Vanessa e Bia - mais uma vez), Daiane, Fabi, Marcos.













E foi esse povo bonito todo, que nos ajudou a fazer, durante todo o ano, 138 castrações, onze resgates, 15 doações responsáveis, incluindo uma gatinha prenhe e seus cinco filhotes, uma ajuda financeira pra uma gatinha doente, cujos tutores estavam sem condições de bancar o tratamento. Mesmo não sendo esse nosso foco, não dá pra fechar os olhos; quando a gente pode, faz. Desses todos, somente três não puderam ser ajudados a tempo. Conseguimos fazer algumas reuniões também, agora de maneira mais oficial, com prestação de contas, atas e lista de presença, café, bolo de chocolate, cuca e, às vezes, até um espumante. Que nem gente grande. Obrigada pelas reuniões.
Filhota capturada - em processo de adoção

Bella - resgatada e adotada
Frederico - capturado e adotado
Freya capturada e adotada
Filhotinha capturada e adotada


Pitico /Romeu - capturado, tratado adotado (adoção especial)

Helena - tratamento de piometra / Pé de Pano - resgatado e adotado






E teve mais sonho realizado: nossa drop trap de verdade, que, graças à generosidade dos nossos seguidores, conseguimos comprar, juntamente com uma maternidade, que nos permite deixar seguros gatinhos em tratamento, sem pagar uma fortuna de internação nas clínicas. Drop trap é um modelo de gatoeira que cai ao redor dos gatos de uma maneira muito mais abrangente, pois consegue capturar vários ao mesmo tempo. É um exemplo de eficácia e rapidez. Extremamente importante em capturas de mutirões, colônica de trocentos gatos. Nós já tínhamos tido duas feitas em casa, mas, eram trambolhos não desmontáveis, que quase não cabiam no carro de ninguém e dava preguiça de usar. Agradecemos a elas pelos serviços prestados. Nossa drop trap é amor.


Então, após colocar no papel tudo o que alcançamos neste ano que está acabando, tem muito mais coisa boa do que não boa. As raivas e decepções que passamos ficam ali, no cantinho do aprendizado da alma, pra serem postas à prova em novas ocasiões.

O que ficou evidente foi que, sem união de forças, não vamos a lugar nenhum. Cada pessoa que passou por nós foi importante, seja pelo apoio moral, seja pela força braçal, seja por nos fazer passar raiva e nos dar a oportunidade de melhorar. Obrigada a você que nos segue nas mídias sociais, que nos doa seu tempo e seu dinheiro, que financia nossos perrengues, que adota nossos recuperados. Deus abençoe muito sua vida, que nunca te falte dinheiro, nunca te falte amor.

E pra não perder a chance, queremos oferecer um lar definitivo, cheio de amor e conforto à nossa Lola de Taubaté: uma gatinha de terreno baldio, ameaçada de morte por um ser humano intolerante, com uma barriga que nos fez crer em 40 filhotes, mas, que, como alegria de fim de ano, na verdade era somente um cisto no ovário e uma infecção no útero, além de uma capa de gordura considerável. Já foi tratada, já está castrada, mas, ainda não tem um lar. Ela vai precisar de segurança e, talvez, um pouco de paciência, já que, até agora, viveu no mato, sem companhia humana, sem amor e com poucas chances. Que tal?



Para o próximo ano, queremos o pedágio com uma sinaleira a mais (quem quer nos ajudar, põe o dedo aqui), queremos menos gatos sofredores, mais amor, compaixão e atitude das pessoas (se nós conseguimos, você também consegue), queremos desenvolver nosso projeto dos sonhos (que é segredo), queremos chegar a, pelo menos, 700 capturas totais realizadas (estamos em 568 desde 2012 até 30.12.2018), queremos fazer um evento gastronômico e ter um monte de gente lá comendo conosco e ajudando na nossa missão, queremos mais voluntários pontas firmes (fale conosco se te interessar), queremos capturar a gatinha Filha Dela, que nos dá baile desde 2012, queremos realizar muito mais. 

Então, querido 2018, obrigada. Por tudo, por todos.

2019, vem cara! 

#énóis - começando no primeiro plano, sentido horário: Vanessa, Daiane, Maria Cecília, Bia e Fabi.

Feliz Ano Novo, meu povo. De novo.

Maria Cecília S. M. C. Quideroli
Operação Gato de Rua





terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Estrada sem fim...

Entra ano, sai ano e a Operação Gato de Rua continua por aqui. Bom seria se pudéssemos fazer uma postagem dizendo "tchau gente, não temos mais o que fazer no mundo, acabou a missão". Mas, não é assim e, se continuar do jeito que está, que é e que sempre foi, não teremos descanso tão cedo.

Na busca por um tema para a postagem deste mês, tive a sugestão de falar sobre a eternidade das ninhadas de gatinhos abandonados. Se pararmos pra pensar que em 2012 - 2013, já escrevemos sobre isso, que estamos em 2017 e ainda vamos escrever sobre isso,  dá pra considerar seriamente se enfocar num pé de cebolinha. 

Protetor de animal dedicado a gatos começa a se arrepiar ali pelo mês de outubro, quando começam a pipocar gatinhos de todos os buracos existentes na terra. São milhares, em todos os grupos de adoção, grupos de resgates, páginas de ONGs, páginas de protetores independentes. Enfim, em todos os lugares. Porque, apesar dos esforços (??) dos chamados protetores, eles ainda continuam nascendo. E sendo abandonados. E sendo resgatados. E sendo doados. E nascendo. E sendo resgatados. E sendo doados. E sendo abandonados. Ad aeternum. 

Mas por que, afinal, o ciclo não se rompe? Gostaria que você abrisse seu coração, sua mente e refletisse interiormente, qual o seu papel no quadro geral. 

1) Vamos falar sobre castração / alimentação de colônias

Depois de tanto tempo lidando com captura de gato de rua, ouvindo suas histórias, vendo seus desfechos, muitas vezes muito trágicos, ainda me pergunto - como fazer com que as pessoas entendam que apenas alimentar os gatos de rua não é o suficiente? tem que castrar, pra que seu problema com dois gatos não se transforme num problema com quarenta gatos. Sim, castração não é barato mas, já há algum tempo, na cidade de Blumenau, é possível castrar animais a preço social, com os cupons vendidos por algumas ONGs e projetos da cidade. Inclusive nós disponibilizamos castração social a R$ 150,00 com anestesia inalatória - precinho de banana, com segurança, riscos menores e garantia de uma vida melhor para os gatinhos, mesmo que eles não sejam seus. 
Não tem dinheiro? Faz vaquinha, chama as pessoas, põe no face, vende brigadeiro, vende livros, faz um trabalho pra alguém. Faça sua parte.

Uma vez ouvi de uma veterinária que, para começarmos a ver resultado no número de animais abandonados, é preciso castrar 70% da população dos animais, num período de 20 anos. 70% em vinte anos, não é pouca coisa, então, não dá pra deixar pra depois..

foto da internet


2) Vamos falar sobre castração  de animais próprios.

Esse assunto é o que mais me irrita, Não me conformo com pessoas que deixam suas gatas criarem deliberadamente. Quer me matar de azia é postar num desses grupos de "Gateiras do Brasil" (saí pra não ter um AVC) que "sou vovó (!!!!!!) - minha filha (gata) teve bebês (de novo!!!) - e um monte de gente retardada dando os parabéns, e que Deus abençoe, que coisa linda e o escambau. É gente demais sem noção no mundo pra uma causa só. A castração só traz benefícios: evita câncer de mama de útero e de próstata, evita doenças transmitidas durante a cópula, melhora o comportamento, deixa o gatinho mais sossegado, e, obviamente, acaba com aquela chatice do cio, porque gata no cio é o que há de coisa mais chata do mundo, gente! Mas tem ainda muita gente que prefere submeter a gatinha a um parto e depois à separação de seus filhinhos, risco de ter alguma complicação, por puro comodismo ou porque acha bonitinho.

Nossa pastelada de 2015 teve o objetivo de castrar gatos com tutores e, dos mais de noventa gatinhos beneficiandos, a grande maioria tinha lar, tinha gente responsável por eles. Foram castrados e ninguém morreu. E - o melhor de tudo - daqueles noventa, nenhum mais nasceu.

Sei que uma castração tem um preço alto mas, com os mesmos cupons que eu citei ali em cima, dá pra resolver o problem sem gastar muito. Um pouco de boa vontade e prática do TBC melhora muito o bem-estar geral.

Tá, mas você prefere pagar os R$ 150,00 no salão de beleza, num vestido, numa viagem, num jantar, sei lá - não dá pra fazer isso e ficar castrando gato. E eu te pergunto: você se considera uma pessoa responsável? você faz sua parte? ou só gosta de fica reclamando que a prefeitura não faz nada. (Aliás, a prefeitura tem feito, pelos gatos do município).

foto da internet


3) Vamos falar sobre tutela responsável

Considera-se um tutor responsável, aquele que provê ao seu animal: alimento, abrigo, água, tratamentos de saúde quando necessário, companhia, amor, carinho afeto, segurança e - um super bônus - castração. Ninguém é obrigado a castrar seu animal, mas ajuda muito a vida dele (e a nossa), se resolver fazê-lo. Tutor responsável e consciente sabe dos benefícios e do alívio e tranquilidade de se ter um animal castrado em casa.

Tutor de gatos, quando é responsável, mantém seu gato preso dentro de casa: tela as janelas e o quintal, sobe o muro, fecha o gato lá dentro, não deixa dar aquelas voltinhas perigosíssimas, que põem em risco a vida do seu gato, dos gatos alheios e, quando o bichano não é castrado, ainda faz um monte de filhotes que serão abandonados dentro de um saco plástico, ou serão distribuídos igual a pirulito no fim da missa do Padre João Bachmann. Quer gatinho? Vem buscar, tenho oito. Isso quando não leva pra agropecuária e deixa lá, pra serem entregues ao primeiro que quiser levar. Deixar na agropecuária não é resolver o problema, é passar pra frente, livrar sua cara, fingir que a responsabilidade não é sua. 

tela no quintal - foto da internet

tela no terraço - foto da internet







tela na janela do banheiro  - sim!! - foto da internet










Tela de galinheiro, baratinha - protege meu Nicolau






Só pra constar que caso seu gato seja macho, ele é capaz de cobrir 30 fêmeas em uma noite - TRINTA!. Então, se seu garanhão felino encontrar trinta gatinhas pelas andanças, ele vai namorar as trinta - e depois vai embora, porque ele não quer nem saber. Não é à  toa que ele volta todo esgualepado do passeio noturno. E você, tutor de gato macho, nem vai ficar sabendo, provavelmente, que foi o responsável pelo nascimento de 180 filhotes dali a um tempo.Não se convenceu? Multiplica 180 por 365. São seus netinhos em um ano de passeios do seu gato macho não castrado que tem acesso às ruas.  Parabéns, vovô.


Ilustrando:
eu chamo de pirâmide do horror - tirei a foto da internet
 (Vai me dizer que não tem nada a ver com o abandono de animais? Que é um problema do governo?)


4)  Vamos falar sobre a doação responsável

Muito se fala sobre a adoção responsável, mas eu gosto de falar sobre a doação responsável. Porque se o animal está na sua mão e você é quem vai procurar um lar pra ele, então cabe a você fazer isso de uma maneira que não contribua para que esse gato morra dali a um mês ou dois (procure adotantes que estejam dispostos a telar a casa), que não fuja (tela) pra cruzar (castração), que não faça 180 filhotes em uma noite e que não precise ser jogado no rio, porque a pessoa não tinha condição de ter mais animais, seja por motivo de espaço, financeiro ou emocional. Porque tirar da rua e passar pra frente sem castrar, não ajuda - pelo contrário, atrapalha a vida de quem se dedica a acabar com a crueldade da vida nas ruas. Não tem dinheiro pra castrar? Não pegue. Ou pegue e vai fazer brigadeiro, crochê, bolachinha, faxina - mas não doe sem castrar. Não seja você o responsável pela continuidade do ciclo do abandono. Não tem aquele papo de - castração garantida na doação - castração só é garantida quando ela já foi feita. Porque não tem termo de adoção que obrigue o adotante a te deixar entrar na casa dele pra pegar o gato, caso ele mude de ideia. Lembre-se de que nossas leis são umas porcarias, no que diz respeito à proteção animal. E de que quem se ferra, SEMPRE é o animal, o único inocente nessa história toda.

Quer me dar azia de novo? Denomine-se protetor e anuncie doação de filhotes inteiros. Sim, eu sei que tem gente que resgata um monte, que não tem dinheiro pra castrar todos, mas, continuar doando sem castrar não é a maneira mais eficaz de acabar com isso. Se esse é o seu caso, pensa que é VOCÊ que está lá na outra ponta da corda, resgatando filhote de gatas alheias, porque em algum momento, um ser humano foi irresponsável. Quebre o ciclo, seja responsável, faça sua parte de verdade. Muitos veterinários de Blumenau fazem castração precoce em gatinhos com menos de três meses, fazem preço especial pra animal abandonado, parcelam pagamento, então corre atrás que vai dar certo. 

foto da internet


Estou falando aqui para pessoas que têm gatos, mas, o recado pode ir pra quem quer ajudar e não sabe como. Conhece alguém que tem gato inteiro? - ofereça ajuda pra pagar a castração. Conhece alguém que tem gato com acesso à rua? Indique sr. Beto da Bluredes - tem preço bem bom e é ótimo profissional. Não conhece ninguém nessa situação mas quer ajudar mesmo assim? Faça uma doação de um cupom, deixe uma castração paga numa clínica pra ONG usar pra quem precisa, divulgue, atue, ajude uma ONG ou protetor da sua confiança. Ajuda sempre é bem-vinda. 

Nós da Operação Gato de Rua não vamos pagar a castração do seu gato a responsabilidade é sua, mas podemos te ajudar indicando os profissionais com preços acessíveis, ou as ONGs que têm cupons sociais - podemos te ajudar a conseguir dinheiro publicando na nossa página, podemos te dar ideias. O que não vamos fazer é anunciar doação de filhotes ou adultos inteiros. E também não vamos te ajudar a resgatar se você não for providenciar a castração dos indivíduos, sejam eles adultos ou filhotinhos. Caiu na sua mão? Não passe pra frente, quebre o ciclo, seja responsável. Faça sua parte.

Então castre, castre, castre, castre. O seu, o do seu vizinho, da sua mãe, de quem você não conhece. Castre. E, pelamordedeus, NÃO ABANDONE!

Quem sabe assim, daqui a 20 anos  possamos fazer aquele post de "tchau gente, nossa missão no mundo acabou".

Um abraço, bom restinho de Carnaval.

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua.




sexta-feira, 22 de abril de 2016

O gato que não era gato, o arame que não era arame - a verdadeira história por trás de uma captura

Quando a gente se decide a ajudar animal de rua, tem que ter muita consciência de que NÃO VAI ajudar a todos  e saber lidar com essa impotência parcial. Tivemos que lidar pessoalmente com isso uns dois anos atrás, quando uma pessoa nos chamou pra ajudar um gato que ela tinha resgatado.
A moça encontrou o gato estropiado na rua, porém, ainda vivo. Tinha sido atropelado e ela, no melhor clima de "vou fazer minha parte por um mundo melhor", resgatou o pobre bichinho e levou ao veterinário. O gatinho, que tinha a boca esmagada e algumas escoriações nas patas, foi levado a um hospital veterinário da cidade, tratado, curado e castrado. Ele seria adotado pelo coração generoso da moça, porque ela tinha medo de que, nas ruas, fosse atropelado de novo - e todos sabemos que os riscos de morte nas ruas são inúmeros.

Quando o efeito da anestesia passou, toda a equipe do hospital ligou pra moça implorando "tira essa fera daqui" - porque o cara avançava nas pessoas, pulava, rosnava e se portava como uma jaguatirica furiosa. Ela, não tendo o que fazer, haja vista que o animal ainda precisava de cuidados médicos, trancafiou-o numa caixa de transporte, levou pra casa e ali ele ficou, por dois dias. Sabendo que o animal sofria e, não suportando a situação, pediu ajuda. Foi quando a Operação Gato de Rua foi acionada por um desses grupos de adoção e ajuda a animais, que pipocam no Facebook.

Falando pelo telefone, disse pra ela soltar o gato num quarto fechado, imediatamente, porque ele morreria de lipidose hepática se ficasse preso, sem comer, estressado, na caixinha. Ela assim o fez. 
A partir daquele dia, nunca mais ela conseguiria entrar no quarto, porque o bicho era brabo pra caramba. Ligou para nossa voluntária, chorando, porque tinha que dar comida, mas morria de medo, então foi  instruiída a colocar comida no potinho e empurrar com o rodinho. Assim ela fez, por outros dois dias. 

Só que ela e o pai estavam de mudança, a casa já quase totalmente encaixotada, só faltava desmontar o quarto do gato. E, pelamordedeustiraessaferadaquiqueeuprecisoentrarnoquarto. Então fomos lá, armar a gatoeira e tentar pegar o bichano. 

Gente: o gato ficava escondido e, quando alguém acendia a luz (a voluntária, porque a moça não entrava lá de jeito nenhum), só se ouvia o "vruuuuuuuuuuuuuu" - no melhor estilo acelerador de motocicleta, vindo de algum lugar atrás do armário. Quem nunca ouviu esse barulho, não sabe o que é terror. 
A imaginação fértil nos deixava visualizar mentalmente, o gato com as orelhas pra trás, dente de fora, assoprando para o ataque fulminante. E aí ele saía correndo de detrás do armário e mudava de lugar, indo pra debaixo da cama. Foi quando pudemos ver que se tratava de um gato preto, peludo, bonito. E o medo deu lugar à ternura e compaixão, porque, no fim das contas, era só um gatinho assustado.

Depois de uma semana de gatoeira no quarto, porque o malandro comia tudo sem desarmar a armadilha, a moça nos deu um ultimato - "vou embora, vou fechar a casa e deixar o gato aqui". Assim com essa ameaça, resolvemos abrir a janela e deixar o pobre bicho sair pra liberdade. Era uma rua muito tranquila, cheia de árvores e matos, onde um gato de rua sobreviveria bem, com relativa segurança - o único problema era a boca costurada - não sabíamos se conseguiria comer passarinhos e bichinhos.

Fazemos  CED - (Captura, Esterilização e Devolução), de coração, sem dó, sem medo, porque sabemos que os animais que atendemos, na sua grande maioria, têm alimentadores e não morrerão de fome. O gatinho em questão, não só estava com a boca costurada, como também moraria num ambiente muito diferente do seu, sem a certeza de que poderia se alimentar. E, imaginar um ser vivo morrer de fome, corta o coração em milhões de pedaços.

E o tempo passou, nos conformamos com o mantra de que "fizemos o que estava ao nosso alcance", nos despedimos da moça, agradecemos a ela pelo que fez e fomos seguir a vida.

Até que, semanas atrás, uma pessoa nos chamou pra ajudar um gato que tinha um arame enfiado na boca. Na última terça-feira, às 6h30 da manhã conseguimos capturá-lo. Qual não foi nossa surpresa quando a veterinária disse que o arame, na verdade, era um fio cirúrgico, que o gato é, uma gata e que já estava castrada. E nos lembramos do gato brabo do quarto, porque era exatamente igual a ela e tinha sido solto ali nas redondezas.

"sou uma sobrevivente e vou ter uma nova chance - mas ainda nem sei disso"


Braba gente, muito muito braba


Às vezes ficamos sabendo que nossos gatinhos castrados foram envenenados, atropelados, perseguidos. E isso nos dói, porque cada um é amado como se fosse um dos nossos. Mas, às vezes, acontecem finais felizes que fazem valer toda a agonia, o cansaço, as horas que passamos nas capturas, a energia dispendida com falatório educativo, a frustração de voltar com gatoeira vazia pra casa. 

A gatinha agora se chama Nega, está na casa de uma de suas alimentadoras, tentando adaptação com a gata da casa.

"olha minha casa segura, gente"


"não gosto muito de foto, mas minha mãe me esmaga e faz"


Esta história só teve final feliz, porque algumas pessoas fizeram sua parte, em vez de esperar que "alguém" faça. A moça que o resgatou, levou ao veterinário e pagou R$ 1700,00 por um gato, com o qual não ficou; as alimentadoras da gata que a mantiveram viva e bem, o rapaz que se compadeceu e chamou pra capturar, os veterinários que a atenderam nas duas vezes e a moça que a levou pra casa, na tentativa de tirar das ruas um animal que já sofreu horrores. A felicidade completa da Nega está nas patas da gatinha da casa, que, ciumenta como só ela, está lá, ressabiada com a nova moradora.

Pedimos, novamente, orações, energias positivas, pensamentos de luz para que a Nega possa ficar em seu novo lar.

a irmã ciumenta


E que Deus abençoe cada um dos envolvidos, porque, como sempre dizemos, se cada um faz sua parte, muitos mais animais são beneficiados.

Grande abraço a todos, obrigada pelo carinho de sempre,

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua





segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pães, peixes e um feliz ano novo

Dia desses eu doei 15 cm do meu cabelo para o projeto @rapunzelsolidaria. Eles fazem perucas para pessoas com câncer, a partir de cabelos doados por outras pessoas. Tive que aguentar minha cabeleira de vassoura um tempão, louca pra cortar logo, mas como eles só aceitam doações com, no mínimo, 15 cm, esperei. Fui pra cabeleireira muito feliz, voltei descabelada e mais feliz ainda. Eu doo meu tempo para as capturas, mas fora isso, não posso doar nada: dinheiro, porque não tenho; sangue, medula e (acho que) órgãos, porque tive febre púrpura quando criança e doenças autoimunes nos riscam das listas de doadores. Fiquei arrasada, inclusive, o dia que soube que não doaria minha medula. Tinha o sonho secreto de poder, algum dia, salvar a vida de alguém. Então doei o cabelo e, do fundo do coração, espero que ele sirva para o propósito. Aí me perguntaram no trabalho se eu ia doar o cabelo e ouvi um: “mas é muito pouquinho” – porque era gente, uma merreca de cabelo, fininho, ralinho e, se comparado com as cabeleiras que estão na página do projeto, não daria pra nada. E eu fiquei um pouco triste com o comentário, não por minha doação ser pequena, mas pelo pensamento em si; fiquei triste pela pessoa. Imaginando que ela, talvez, por achar que é pouco, perca a chance de ajudar muito.
Aí, fui fazer uma apresentação da Operação Gato de Rua num evento de gatinhos de raça quando, ao falar de nossos números, percebi que não progredimos tanto quando eu gostaria no último ano. Queria ter chegado a, pelo menos, 500 gatos castrados em 2015. Mas, com muito suor e muito custo, conseguimos 329. Não é muito, se comparamos com os mais de mil de outros projetos semelhantes. Fiquei meio envergonhada de ter um número tão baixo se comparado aos dos outros. Porque eu estava comparando. Senti a vergonha que não senti quando doei o pouquinho de cabelo. E fiquei matutando o quão esquisitos somos nós, seres humanos, que, numa mesma semana, sentimos orgulho de uma merreca e vergonha de outra.
Então me lembrei da história daquele garoto que, sem vergonha nenhuma, ofereceu seus cinco pães e dois peixes à multidão faminta. Ofereceu com amor. E seus pães e peixes alimentaram a multidão e, deles, ainda sobraram doze cestos cheios. (Pra quem não conhece a parábola, está na Bíblia, em Mateus 14:13-21; Marcos 6:31-44; Lucas 9:10-17 e João 6:5-15). Porque quando dois não têm nada, dois não têm nada. Mas, se um tem algo e o divide, os dois têm algo. A doação, seja de seu tempo, seu coração, seu dinheiro, suas palavras, seu colo, seu sorriso, suas roupas e sapatos que não têm mais serventia, seu alimento, de si mesmo é o que nos faz viver o amor. Porque amar é fazer o outro feliz.  E ficar feliz em ver o outro feliz.
As famigeradas redes sociais estão aí, nos lembrando, a cada dia das tantas crueldades do ser humano pelo mundo, mas, ao mesmo tempo, nos mostrando coisas lindas como a história do cão Cafu ( viu? https://www.facebook.com/Padaria-Borasca-460964320597701/?fref=ts); do Jubinha (viu também? http://www.olharanimal.org/solidariedade/9959-conheca-jubinha-o-cachorro-que-dormiu-no-colo-do-papai-noel-e-encantou-a-internet). Pãezinhos e peixinhos modestos, espalhados pelo mundo. Coisas simples, atitudes mínimas, que fazem grande diferença.
Dezembro é mês de abandono de animais em nossa região. É tempo de receber dezenas de telefonemas e mensagens com : “encontrei um gatinho ( cachorrinho )  mas não posso ficar, pra onde levo? “. E quero dizer que acolher um animal da rua não é tão difícil quanto se pensa. A não ser que você seja uma daquelas pessoas que já têm 20 (30, 18, 10) animais, porque pessoas acham que a responsabilidade é sua, mas não delas. Porque quando sobra pra um só, aí, sim, a coisa complica.
 Dezembro é tempo de se parar pra pensar nas atitudes de pessoas que se dizem do bem e, na época do nascimento do próprio Amor, jogam seus animais nas ruas, como se fossem lixo. É época de torcer para chegar logo o dia 18, pra gente poder tirar férias e fingir que esse tipo de problema não existe. E é época de pensar que, mais uma vez, chegou o fim do ano e eu não sei se melhorei como deveria. Porque eu sempre penso que preciso melhorar, mas só paro pra refletir na época do Natal e da Páscoa.
Então, pra encerrar um ano, que aparentemente, está judiando de todo mundo, quero resgatar, em primeiro lugar, no meu coração e, através deste post, em muitos outros, o mesmo sentimento do garoto dos pães. Porque a doação, com amor, do meu pouco, juntamente com a doação, com amor, do seu pouco, vai fazer, com amor um muito e esse muito pode mudar, se não o mundo, pelo menos a vida de alguém.
Desejo que nossos corações possam se abrir ao amor desinteressado. Que cada pessoa possa se dedicar a uma causa, seja ela qual for e se doe ao outro. Tenha esse outro duas ou quatro pernas (ou nenhuma, mas que respire e sinta, que seja vivo). Que possamos fazer em 2016, um pouquinho mais do que fizemos em 2015. Que todo mundo que me perguntou para onde levar o gatinho abandonado que encontrou, sinta-se imediatamente aberto a acolher e fazer sua parte, porque o problema é de todos nós e a solução também está nas mãos de todos nós. Porque se cada pessoa oferecer um cantinho e acolhimento até uma adoção responsável com castração feita, um dia, o abandono vai acabar. E, já que sonhar ainda não custa nada, desejo  que, um dia, eu possa fazer um post de “muito obrigada por tudo, mas precisamos encerrar as atividades da Operação Gato de Rua, porque não existem mais gatos sem lar na cidade de Blumenau”. Se todo mundo se unir, a gente chega lá.
Um feliz Natal a todo mundo. E que venha 2016, porque 2015 já deu.
Beijos no coração.

Maria Cecília Quideroli

Operação Gato de Rua

terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre gatos e homens - o fim de uma colônia

Uma tarde triste começa com um telefonema horrível na hora do almoço, informando que a grande colônia de gatos em uma casa abandonada no centro da cidade foi, praticamente, exterminada. Sabe aquela ali, ao lado do Polo da Universidade, na rua da emissora de TV? Pois é, ela mesma.

Nosso choque inicial logo foi substituído por indignação, vontade de fazer justiça e, após visitar o local, por um desesperador banho de realidade perante a impotência diante da impunidade que todos sabemos, será a palavra chave de toda a situação. 

A Operação Gato de Rua estava castrando lá, com o apoio do CEPREAD. Já tínhamos capturado e castrado 9 animais e o plano era voltar no próximo fim de semana, para pegar mais alguns e, numa terceira vez, provavelmente, terminar o processo. E pronto, eles não se reproduziriam mais. 
A tendência de uma colônia na qual todos os gatos são castrados, é diminuir. Muitos, por não terem mais a necessidade de marcar território, acabam se mudando. Ou morrem, naturalmente, após algum tempo. Gato de rua, infelizmente, não tem muita perspectiva de vida longa. E, como se não bastasse todos os atropelamentos inevitáveis, as doenças não curadas, perseguições, espancamentos, sofrimento de fome e frio, ainda têm que enfrentar o pior de seus inimigos: o ser humano vizinho, minúsculo e subdesenvolvido, incapaz de se compadecer da situação de quem pode e tem menos.Que anda com duas pernas e, só por isso, se sente superior. Inteligência sem amor vira crueldade.

Parte dos quase 30 gatos - R.I.P.- queridos inocentes

OGR - orgulhosa da captura bem sucedida e Juliana do CEPREAD


Conversando com os alimentadores, soubemos que até uma semana atrás ainda estavam os trinta gatos ali, onde, agora, encontram-se apenas CINCO. Cansados de esperar que "alguém" desse um jeito, a vizinhança resolveu agir por conta própria, da pior e mais cruel maneira possível. E ver a varanda, antes cheia de orelhinhas pontudas e bigodes, agora vazia, nos fez chorar.

:( - só restam cinco e uma varanda cheia de espaço


Blumenau tem um índice de envenenamento de animais tão grande como nunca vi.  E olha que já morei em vários lugares do Brasil. Nada oficial, mas nunca me deparei com tanta crueldade em nenhum desses lugares. Muitas pessoas intolerantes, impacientes, soberbas e inertes, que esperam que alguém resolva seus problemas, na hora em que querem. E o pior? São pessoas que têm filhos, que se reproduzem e propagam seus genes podres; que lidam com seres humanos, vão à igreja toda semana. Fazer o quê? Porque Deus vê o nosso coração, não adianta ir lá posar de santo. Por que não castraram quando eram poucos? Por que não chamaram alguém quando eram dois ou três? Porque tinha que ser alguém, não eles. 

O que mais nos dói é saber que os criminosos não vão sofrer nada, ficarão ali, matando tantos gatos quantos lhes atravessarem o caminho, porque, afinal, alguém tem que fazer alguma coisa. Obviamente os corpinhos mortos foram removidos, para que provas fossem eliminadas. E é por isso que os filhos de queridas mães ficarão impunes. Não temos fotos, vídeos, nada que prove o massacre. Mesmo assim, vamos mostrar para essas pessoas que estamos de olho. Vamos nos reunir com faixas, buzinas, barulho, TV na frente da casa onde ficava a colônia, pra chamar a atenção e deixar essa gente, pelo menos, constrangida.

E, urgentemente, exigir que a lei que aumenta a punição para quem é cruel com animais, seja aprovada. Isso tem que acabar,não dá mais pra suportar. 

Esse post é um convite a você, que se solidariza com os pobre gatinhos assassinados e tantos outros que ainda serão vítimas desses abomináveis. Vem com a gente, fazer barulho e tentar por um pouco de vergonha na cara lavada desses idiotas que não perdem por esperar.

Por que a justiça brasileira é bem falha, mas, a de Deus, é infalível.

Vem, gente!!!

Um abraço de coração partido
Todo mundo da Operação Gato de Rua




quarta-feira, 8 de abril de 2015

Uma captura 100%

Nem sempre uma captura dá certo, o gato não aparece ou o gato aparece e não entra na gatoeira ou ainda o gato aparece, entra, mas consegue escapar! Isso é muito frustrante! Não só pelo tempo gasto, mas principalmente por saber que o gata ou a gato pode engravidar ou procriar. E evitar o nascimento de gatinhos sem dono é a nossa missão.  

Uma boa captura depende de duas coisas essenciais: interromper a alimentação no dia da captura e evitar ao máximo que o gato nos veja no momento da captura. Gatos são muito espertos, eles sabem que a nossa presença ali no local deles significa algo diferente. Pelo menos os gatos adultos, pois os filhotes são muito curiosos e até certo ponto inocentes e são os primeiros a investigar aquela comidinha diferente dentro da gatoeira. Mas geralmente não são eles que nós queremos, e sim suas mamães e papais. E ai a espera pode ser longa ou mesmo infrutífera. 

Uma captura perfeita é muito raro! Mas acontece. 

Blumenau, centro da cidade, dia 24 de março de 2015. Fomos preparadas para mais uma captura. A anterior havia sido em vão, a mamãe gata não cooperou e acabamos voltando de gatoeira vazia. 

O ânimo não estava dos melhores, mas mesmo assim foram passadas as mesmas recomendações para a protetora. 

Vimos um bom sinal assim que chegamos ao local: um bilhete pedindo para as alimentadoras não colocarem comida neste dia! E realmente não havia comida lá.  

Outro bom sinal: um gato cinza se aproximou de nós, se deixou acariciar e até brincou conosco. A protetora explicou que ele era manso, poderíamos pegar ele com a mão e colocar na caixinha de transporte. Fácil assim. Um gato muito querido e com certeza não era um gato feral. Esse gatinho teve um lar, era acostumado com pessoas. Porque estava na rua? Fugiu, foi abandonado?  Nunca saberemos.

O passo seguinte foi tentar a captura do gato mais arisco, um tigrado. Em pouco tempo ele apareceu, atraído pelo cheiro e barulho da ração.

A gatoeria foi colocada de um jeito que ficava perto dele e ao mesmo tempo permitia que ficássemos fora da visão dele. Mas havia a preocupação de que ele novamente não entrasse (essa era a segunda tentativa de captura). Um pouco de sachê na gatoeira e começou a espera... 

Algumas pessoas passaram pelo local, uma mulher com sua filha, perguntou receosa se levaríamos os gatos embora. Explicamos a ela o que estávamos fazendo, e ela comentou que havia dado um nome ao gato cinza (Socks, pois as patinhas são branquinhas nas extremidades, parecendo meias). 
Apenas pensei comigo mesma "mamãe, sua linda, você está dando um exemplo maravilhoso pra sua filhinha, não são apenas palavras que educam, mas principalmente nossas ações, nossos exemplos").  

Fui apresentada a outra alimentadora da colônia que passava por ali, e cheguei a conclusão que existe uma grande rede invisível de pessoas do bem que se preocupam, doam um pouco de seu tempo e dinheiro para a causa animal. O que seria deles sem essa grande rede?

Nesse meio tempo, o melhor aconteceu: o tigrado desceu até a calçada onde estava a gatoeira, atraído pelo cheiro da comida, andou ao seu redor, farejou,  entrou e zaaaaapp, gatoeira fechada!   

Dois gatos encaminhados para a veterinária!  

Mas o melhor da captura ainda não havia acontecido. O melhor da história ficou para o final.

A protetora da colônia procurou e encontrou uma nova mamãe para o gato cinza. O Socks recebeu até um novo nome! A adotante achou engraçado a pontinha da orelha esquerda cortada (prática comum para marcar o gato esterilizado) e batizou ele de Van Gogh. Talvez com o tempo ele seja chamado apenas de Vincent! 


E mais, o gato tigrado ficou com a sua protetora que já havia adotado um gato preto e machucado da mesma colônia, portanto, o tigrado e o preto já se conheciam e agora estão morando juntinhos numa casa amorosa e protegidos de todo o mal que estão sujeitos na rua! Que lindo gesto. 

Essa captura foi a mais recompensadora de todas, pelo final feliz dos dois meninos capturados e adotados! 

Quiçá todas pudessem ter um final feliz! 





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Tudo junto e reunido no combate ao abandono

Bom, povo meu.

Ultimamente tenho me revelado uma pessoa reclamona, que adora criticar. Era promessa pra 2013, 2014 e é pra 2015, mudar isso. Então, pra dar o primeiro passo, resolvi agir.

Tem um site no Facebook, que se chama Bluanimais Adoção, no qual pessoas de Blumenau, a princípio, anunciam seus animais para doação. Até aí, nada demais. Só que, sendo eu uma pessoa que procura combater que animais com tutores procriem por quaisquer que sejam os motivos dos mesmos, me dói no coração ver os anúncios de: "minha gata deu cria, não posso ficar com os filhotes", "quando minhas gatas têm filhotes elas passam por isso" (este último quase que me fez pular no telhado, sério. Como assim, minhaS gataS dão cria, assim, com tanta tranquilidade? Cadê sua responsabilidade, criatura?) - Aí fui lá e reclamei. Como isso só me torna um ser antipático, resolvi agir pra tentar aliviar minha barra.Falei com as outras pessoas da ONG e, como todos eles sabem o baile que só os gatos são capazes de nos dar, concordaram em tentar comigo.

Sendo assim, criamos uma página, também no face, chamada "Preciso castrar meus gatos, mas não tenho dinheiro" - https://www.facebook.com/querocastrarmeugato?fref=ts

Nosso objetivo com a página é cadastrar o máximo de pessoas possível para ter uma ideia de quanta gente ainda vive no obscuro mundo de gatinhas queridas, com donos, parindo sem parar. Acreditamos que a responsabilidade é de todos nós, de cada um de nós individualmente, que a solução para os problemas está também em nossas mãos. Não adianta reclamar que a prefeitura não faz nada, porque eles fazem o que podem; que os veterinários são caros, porque eles precisam pagar contas e impostos; que não dá tempo, porque quem ama, arranja um tempinho pra cuidar do gatinho; não adianta dizer que "demos vacina a vida inteira e nunca aconteceu nada com nossa gatinha" - porque o risco que ela está correndo é grande demais e não vale a pena. E a vida dela depende de você.

Então, como estava dizendo, vamos registrar os dados, contar de quantas castrações precisamos, procurar veterinários parceiros, fazer um evento, chamar e esperar a participação dos interessados,porque, de bandeja, não vem nada. Quem não ajudar, não será ajudado. A solução está nas mãos de cada um, não de poucos.

Ainda é só um esboço, um desejo. Mas, como somos pessoas de fé, acreditamos que tem muita gente boa por aqui que só não colabora por falta de oportunidade; que só continua deixando gatinhos fofos nascerem, mesmo não tendo como ficar com eles, por pura falta de informação, ou de grana mesmo. 

Então, esta página é pra você: que tem gatos e gatas, inteiros, que continuam procriando indiscriminadamente; você que não tem dinheiro pra levar a um bom veterinário; você, que acha que a injeção de anticoncepcional não faz mal pra sua gatinha; você que, além de tudo isso, deixa seus animais passearem livremente, sem se importar com quem eles vão andar por aí.

Faça sua parte: curta nossa página, ajude-nos a divulgar, ajude-nos a ajudar quem precisa e quer.



Grande abraço,

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua

sábado, 6 de dezembro de 2014

Encontros e Desencontros

Pois é, a ideia era fazer o II Encontro Nacional de CED aqui em Blumenau e trazer os Felinos Urbanos, o Stray Cats, o Bicho Caiçara, a ARPA, os Sotero Bichanos e mais um monte de gente linda. Mas, por quaisquer que sejam os motivos, somente pouquíssimas pessoas se inscreveram e, em função do alto valor do local reservado, preferimos cancelar. A boa notícia foi que o pessoal do Bicho Brother de SP, que já estava inscrito, aproveitou pra vir conhecer Blumenau e passar a Lua-de-Mel fazendo CED.  Eduardo e Mariana passaram o fim de semana aqui, trocamos ideias, tomamos café juntos, comemos cuca de nozes que parecia aquele doce maravilhoso chamado camafeu, enfim, foi muito bom. Além de alguns voluntários da Operação Gato de Rua e o Bicho Brother, ainda tivemos a presença da amiga Cris, sempre ali pra nos ajudar, quem, aliás,trouxe a deliciosa cuca.

Vanessa, da OGR (com minha Cachaça nas mãos), Eu, Mariana, Eduardo (ambos do Bicho Brother) e Cristina, amassando o Romeu, que se sentiu a estrela do dia.


E aqui, sem Vanessa, com Fábio. 

Durante os bate-papos, pudemos ver que temos muito em comum, mesmo em ambientes tão diferentes. Conhecer quem tem peito pra fazer CED e faz, sempre nos dá força pra continuar. Nós aqui, achando que nossas colônias são numerosas com vinte gatos, ficamos sabendo de uma em SP que deve ter uns 10.000 (sim, dez mil). Uma casa abandonada, com rolo de herança,  na qual ninguém pode entrar, onde os gatinhos vivem, se reproduzem (daquele jeito que gato se reproduz) e morrem, alimentados por uma velhinha  (o que seria dos gatos de rua, se não fossem as velhinhas de coração bom?).

Também ouvimos muitos relatos e ficamos com água na boca de conhecer o Rogério do CCZ de SP, um expert em laçar gatos com a rede em cima do telhado, ou onde quer que o bichano esteja. Ah, Nove e Quinze, quero muito que você conheça essa pessoa. Já ficamos aqui, pensando em como aprender com ele essas táticas milagrosas de pegar qualquer gatinho em qualquer lugar.

Eu, particularmente, tinha a curiosidade de conversar com o Bicho Brother, porque, além do CED, eles mantém abrigo, atualmente com 40 gatos. Como tenho lá minhas razões para ser contra e faço CED justamente porque não gosto de lidar com doação, queria saber como é. Claro que tem muito trabalho, muita despesa, muita dor de cabeça, muito gato que por esse ou outro motivo fica pra trás, nunca é adotado. Aquela velha história, típica de abrigos. Aí, num momento da conversa, ouvimos a frase: "nós vamos acabar com isso de abrigo, vamos ficar somente com o CED". Porque não é fácil nem pra quem cuida, nem pra quem fica lá (os gatinhos). Se uma boa adoção fosse garantida, seria um mundo ideal que, infelizmente, não existe. 

Bicho Brother já fez aproximadamente cem capturas, são, pelo que entendi, três pessoas. Vermifugam os gatinhos, antes de soltá-los (eu sempre quis fazer, só não sabia como). Têm convênios com alguns veterinários bem parceiros, também pedem para a pessoa que pede a captura pagar os custos de castração, etc. Porque senão não dá.

Das esquerda para a direita: a bunda do Nicolau em cima do sofá, eu, Cris, Eduardo e Mariana


E porque Lua de Mel, não tem sentido sem captura, fomos à colônia da nossa gatinha mais desejada, mais difícil, mais lisa: Nove e Quinze, perseguida por nós há dois anos, que, graças a Deus e à sua esperteza, já está com a cria número 4 - totalizando 15 filhotes (dois resgatados/doados; cinco mortos, outros quatro resgatados/doados e quatro ferinhas que estão lá) e, ao que parece, prenhe de novo. Porque,claro, as gatas mais ariscas são as mais férteis.

Nove e Quinze com cara de ninguém me pega

Depois de aproximadamente duas horas de baile, eis que um dos filhotes teve misericórdia de nós e resolveu que queria conhecer a tia Juliana. Capturado às 19h40 foi batizado de Sete e Quarenta. Eu ali, numa esperança de ele ser bonzinho e poder ser doado, vi meus sonhos desmoronarem ontem, quando a veterinária avisou que era pequenino, mas já é uma fera. Pena, perdeu a chance de sair das ruas. Detalhe: é um filhote de pouco mais de dois meses e foi castrado. Sim, é possível e necessário castrar filhotes, principalmente se estes serão devolvidos às suas colônias.

Eduardo e Sete e Quarenta

Sete e Quarenta, a minifera, já castrado e devidamente marcado

Ano que vem faremos,  em algum outro lugar do Brasil, nosso encontro nacional. Pelo menos é o que espero. Quando foi impossível realizá-lo em Goiânia, sugeri pessoalmente Blumenau, porque quero demais que as população daqui conheça essa prática tão eficaz para combater o abandono antes que ele aconteça e melhora a vida dos animais, em muitos sentidos. Infelizmente, as pessoas não se interessaram. Fiquei muito triste mesmo, porque seria lindo ouvir tanta gente que faz CED pelo Brasil afora. Azar  de quem não se interessa, não sabe o que está perdendo. 

Está mais do que na hora de protetores e amantes dos animais mudarem o pensamento, saindo da ideia de resgate / castração (pelamordedeus) e doação. CED é lindo. CED é a solução humanitária, para os gatos de ruas de países desenvolvidos que eutanasiam gatos errantes.

CED é vida.


Grande abraço,

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua