segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

E eu com isso?

Bom dia, pessoas!

Espero que vocês estejam todos bem, felizes, quentinhos, seguros, alimentados e amados em seus respectivos lares.

Não é o que acontece com milhões de animais abandonados pelas ruas das cidades do Brasil e do mundo. Infelizmente, devido à irresponsabilidade de algumas pessoas, milhões de vidas inocentes vagam por aí sem chance de receber um cafuné, uma comidinha com hora certa, uma caminha quentinha, sequer um teto protetor sobre a cabeça num dia de chuva.

Ah, mas isso não é problema seu, né? Não? Vamos ver:

Seu animal é  castrado? - se sim, parabéns, muito bom pra você, que não vai precisar se preocupar com ninhadas indesejadas e muito bom pra ele também, que terá sua expectativa de vida aumentada devido ao menor risco de contrair câncer, piometra, doenças sexualmente transmissíveis, além de se tornar um animal mais tranquilo e caseiro.

Se não é: ele fica bonitinho em casa durante o período de acasalamento? 
Se sim, ótimo. Você só deveria pensar na questão dos benefícios da castração para a saúde dele.

Se, porém, seu animal não castrado sai pra rua, então te digo: SIM, você é responsável pelo grande número de animais abandonados nas ruas da sua cidade. Por quê?
Bom, primeiro porque você, provavelmente não vai querer ficar com mais seis ou oito gatinhos ou cachorrinhos que vão nascer da sua fêmea original a cada vez que vier o cio. Consequência disso é que vai doar os filhotes - COM CERTEZA SEM CASTRAÇÃO  - porque afinal de contas é super caro castrar e você não castrou nem seu próprio animal, quanto mais os que vão para casas de outras pessoas.
E se o seu animal é macho e vai pra rua, mesmo que você não veja o resultado dos passeios dele, o problema é seu também. Porque seu cão, ou gato, vai sair por aí fertilizando fêmeas e aumentando o número de nascimentos indesejados.

Esses animais, doados sem castração, vão procriar e o que aconteceu na sua casa, vai acontecer em seis, oito dez casas diferentes dali a no máximo seis meses. Um casal de gatos, em um ano pode ter até 18 descendentes. Mas vamos considerar que tenham doze, ok? Em cinco anos, esse mesmo casal de gatos será responsável pelo nascimento de 12.680 gatinhos. Você tem lugar para 12.680 gatinhos no banheirinho da sua casa? Dinheiro para alimentá-los, das assistência veterinária? Vacinar? É um pouquinho caro, já vou te avisando. Se você não tem como ficar com os 12.680 gatinhos e vai precisar doá-los, sem castrar, então, meu caro, minha cara, SIM, você é responsável pelo grande número de animais - aqui no caso, falando de gatos - que vivem e sofrem nas ruas.

Tirei esta foto da Internet, é da Patrícia Oliveira- retirei do site http://mutiraodecastracao.blogspot.com.br/ 


Foto do site: sosbichosderua

Tá bom, você não tem um animal, mas na sua rua tem uma gata que a cada três meses tem gatinhos. Coitados, são atropelados, são mortos por cães, muitas vezes não chegam nem ao sexto mês de vida. A pobre gatinha ali, firme e forte, sendo alimentada por pessoas que se compadecem - às vezes - passando por todo o processo da gravidez, do parto, vendo seus bebês morrerem, passarem fome, mexerem no lixo ou serem levados para lares, e o ciclo se repetindo infinitamente, por um, dois, cinco anos. 

Mas não tem problema, porque ALGUÉM vai ajudar a pobre gatinha um dia,né?  As pessoas têm bom coração. É assim que você pensa? Sim, você pensa assim, mas a gata não é sua, por que você faria alguma coisa por ela? E eu te pergunto, e o seu coração, não é bom? Ah, você a alimenta? Ótimo, muito obrigada, não morrer de fome já é muita coisa. Mas, e aquela coisinha a mais que todo mundo pode fazer?

Você já pensou em resgatar a gatinha e levar pra casa? Já, mas ela é arisca? Então te digo, deixe-a lá, porque ela não vai gostar da sua casa, muito provavelmente. A Léa que o diga. Já te contei a história da Léa? Pra resumir, é uma gatinha que eu tirei de uma colônia, quando ainda acreditava que todos os gatinhos amansam e gostam de gente. Depois de sete meses no meu quarto de hóspedes, sozinha, com pavor de humanos que não fossem eu, consegui doá-la para uma casa que tem uma mata no fundo, pois imaginei que ela gostaria de lá. Dito e feito. Ficou uma semana na casa da pessoa, aprendeu que ali tem comida, se precisar, primeiro foi morar no mato, agora fez amizade com a gata do telhado e mora lá, no telhado do vizinho. A sorte dela é que a região é tranquila. E a adotante não consegue nem mais tirar uma foto dela pra mim, porque ela foge. Não gosta de humanos. E ponto. Gatos ariscos devem ficar em suas colônias.

E, se você acha que chega de gatinhos atropelados por aí e não dá pra levar pra casa, porque você não quer e tem todo direito de não querer, castre as fêmeas. Claro que você não precisa e nem deve, pagar sozinho pela cirurgia de uma gata de rua. Converse com a vizinhança, faça uma "vaquinha" e, uma vez por mês, paguem uma castração - primeiramente das fêmeas,mas depois dos machos da rua também. É importante castrar os machos, para que gatos não castrados não apareçam na colônia. 

Como capturar? É aí que entra a  minha parte. Vocês pagam, nós marcamos uma data, vamos até sua rua, fazemos a captura, o transporte até o veterinário, cuidamos e devolvemos ao local de origem. Sem custo extra. É fácil, é rápido e, em grupo, fica barato.Tenho feito algumas capturas assim, encomendadas:
o sr. Roberto, a D. Jaci, a Dani que, pasmem! ainda respiram, ninguém morreu por fazer isso. E os gatos vão  muito melhor, obrigada. E ainda estão na fila a Rejane, a Joice, a Jéssica.  . Fico muito feliz quando as pessoas colaboram, fazem alguma coisa a mais. 
Para dar um exemplo: na rua da D. Jaci eram duas fêmeas. Um dia, eram oito gatos, pois as duas tiveram bebês, três cada uma. E agora uma delas desapareceu, provavelmente foi namorar por aí. Seus filhotes já estão com aproximadamente quatro meses e na minha fila.

Mas, por que vocês pagariam? Não é isso que a Operação Gato de Rua faz? Sim, é. Mas, infelizmente, meus recursos são limitados e o número de gatos nas ruas de Blumenau é imenso. Sempre me avisam: "ali tem um monte de gatos", "lá, não sei onde, tem uns 15 gatos". E estes são os ferais, que só moram nos matos, nos escombros e não têm quem interceda por eles. Por esses é que eu trabalho, é para esses o meu dinheiro. Porque são muitos, já. Ninguém fez nada quando eram dois ou três. E, caro leitor, se você não fizer nada, é esse o destino dos dois ou três gatos da sua rua. Se tiver uma fêmea por lá, em seis meses, serão mais ou menos sete gatos. Se forem duas fêmeas, em seis meses você terá aproximadamente quatorze gatos. E, assim, sucessivamente. Também ajudo uma pessoa que, com seus próprios e escassos recursos, alimenta mais de trinta gatos na cidade, e que me ajuda também. Já castramos aproximadamente vinte desses trinta gatos.



Para o caso dos animais de estimação, existe o cupom da APRABLU - que você pode pegar na Banca da Rose, na Rua XV de novembro, 360. Com esse cupom você ganha 50% de desconto na castração do seu animal sem raça definida (SRD), nas clínicas conveniadas. Pesquisei por esses dias, a castração de GATA mais barata custa R$100,00 com o cupom. Baratinho, né? Sem o cupom chega a R$400,00.

E hoje não vou abordar o tema: animal tem que ficar dentro de casa. Fica pra próxima. Quero que você veja a importância da castração, na prática, tanto dos seus próprios animais, quanto dos animais de rua que você vê por aí e, principalmente, dos filhotes que são doados sem castrar. Sobre castração a partir dos dois meses já falei no post anterior.
Também não vou falar em detalhes sobre os benefícios da castração.


Uma coisa precisamos ter em mente: quando as forças se juntam, chega-se mais longe. Eu, sozinha, vou alcançar um número de animais muito menor - por questões financeiras, principalmente - do que em conjunto com vizinhanças interessadas.

Converse com seus vizinhos, dê um passo a mais, ajude a diminuir o número de animais abandonados sofredores nas ruas. Castre seu animal de estimação. Castre um animal de rua.

Os bichinhos agradecem.

Um abraço e boa semana.

Maria Cecília




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Palestra Dr. Jeff Young III


Gatos, C.E.D, Reprodução Indiscriminada e Educação de pessoas

(23:30) 


 
"Algumas razões para grupos de proteção não gostarem muito de mim:


o papel de protetores e ongs 

1-     Abrigar animais nunca irá resolver o problema da superpopulação. Se você tiver 100 canis, terá 120 animais dentro deles e isso não resolve nada. E isso faz alguma diferença para estes animais, como indivíduos? Na verdade, essa situação piora ainda mais as coisas.
2-    Você PRECISA garantir que nenhum animal adotado irá reproduzir

3-    Você PRECISA educar as pessoas. 
4-    Você PRECISA estabelecer uma campanha de Captura, Esterilização e Devolução de ferais. 
 
Não há discussão sobre esse assunto. Gatos tem muitas ninhadas por ano, é quase algo perpétuo e, no final das contas, 80% destes filhotes que estão em abrigos nos E.U.A, que vão para adoção, são filhotes de gatos ferais ou errantes, não dos que tem dono, já que sabemos que a maioria dos gatos com donos já estão castrados. E também é preciso identificar quando um gato pertence a alguém. 

A pessoa chega ao consultório: “este gato tem um abcesso, não é o meu gato, eu só o alimento nos últimos 3 anos.” Quando ele se torna o seu gato? É nessas situações que, sem dúvidas, como profissionais e como grupo, fazemos um trabalho bem ruim de educar as pessoas em relação aos gatos. Estamos bem com os cães , já o consideramos animais da família, 65 a 80% das pessoas consideram os cães animais da família, mas não consideramos os gatos da mesma forma.

Provavelmente a domesticação dos cães tem um grande papel nisso, pois foram os primeiros animais a serem domesticados pela humanidade, entre 80 a 100 mil anos atrás. Temos uma conexão mais antiga com eles. Gatos, só temos contato com eles entre 6 a 10 mil anos atrás. Ainda não estamos lá. Talvez nos próximos mil anos possamos considerá-los com outros olhos.

Há grandes instituições que possuíam enormes recursos financeiros para construir inúmeros canis, mas chegaram a conclusão que isso não fazia sentido. Ao invés de canis, investiram em centros cirúrgicos para castração, para realizarmos mais castrações e oferecer as cirurgias por um preço acessível, contratar um treinador de cães e um especialista em comportamento animal para educar os donos e evitar abandonos nos abrigos. “Por que você está abandonando este cão? Ele faz xixi na casa inteira.”

Ele faz isso por não estar castrado. Apenas ao castrá-lo você reduz a probabilidade deste problema em cães em 70% e em gatos em 90%. É aí que está o nosso papel, como veterinários, como futuros veterinários. Mesmo se você exterminar este problema em particular, você ainda terá pessoas trazendo os animais aos abrigos por motivos ridículos. A pergunta é: podemos devolver estes animais a seus lares de origem, corrigindo o problema? É aí que entra a modificação de comportamento, o treinamento e a educação de pessoas também. São coisas muito importantes.

Os benefícios x malefícios médicos da castração precoce:
1-    melhora comportamental,
2-    redução da incidência de cânceres
3-    maior estimativa de vida
4-    não irão reproduzir
5-    obesidade
6-    incontinência? 


Mesmo quando falamos de incontinência, o argumento não é valido quando consideramos a diferença entre vida e morte. Apenas não faz sentido.

Alguns veterinários dizem que, se castrarmos todos os animais, não teremos de onde ganhar dinheiro. E eu digo, se castrar tudo, irei vender drogas. É apenas uma questão de perspectiva (risos).

E voltamos ao ponto de buscar a real causa das coisas.

Vegetarianos vivem 7 anos a mais. E por que isso? Não somente por serem vegetarianos, mas eles possuem um certo estilo de vida mais saudável. Ajuda que sejam vegetarianos? Claro. Provavelmente não terão um ataque cardíaco, mas também possuem probabilidade de ter alguns tipos de câncer.

Dizem que alguns tipos de câncer são mais comuns em animais castrados 

(raças como Golden Retriever), mas, novamente, como são as especificidades dessa população? E isso representa menos de 0.2% de casos nestes cães. Qual a importância disso quando você se depara com milhares, milhões de animais sendo mortos? Não é um fator válido.

Adoro cães de raça pura, não tenho problemas com criadores bons e legítimos reproduzindo cães bons e legítimos. 

Quando você recebe no consultório um Lulu da Pomerânia, comprado em uma petshop, que custou bem barato e os donos estão pensando em reproduzi-lo, com 3 meses pesa quase 14 quilos. Mesmo sem conhecer muito bem sobre a raça, sei que eles não devem pesar quase 14 quilos, deve ter um chow-chow por aí, isso não é um Lulu da Pomerânia. Mas a pessoa tinha um papel dizendo que é um Lulu e queriam reproduzi-lo. 
Qual sua postura como veterinário? A minha é: ele deve ser castrado, se você não o quiser, ali está a porta, pode sair. 

Tenho um estabelecimento veterinário completo, podemos fazer de tudo, mas nada deixa nossas instalações sem ser castrado. Devemos ser a única instituição dos E.U.A que oferece serviços a baixos preços e, da ultima vez que chequei, tínhamos 15 mil clientes registrados.

Aqui estão alguns cuidados para castração precoce:




1- Hipoglicemia, hipotermia e hipotensão são as maiores preocupações em filhotes

2- Vermifugar e vaciná-los vários dias antes da cirurgia
3- Jejum de 2 horas antes da cirurgia, para gatinhos e de 4 horas para cãezinhos 
4- Administrar glicose oralmente 10-20 minutos antes da cirurgia ou após, se necessário 
5- Administrar soro cutâneo aquecido antes da cirurgia ou diretamente após o procedimento 
6- Manter todos os filhotes em superfícies aquecidas durante a cirurgia e recuperação
7- Fazer com que a preparação cirúrgica seja a mais rápida possível, usando materiais de sutura não-reativos. 
E, finalizo com: eles não morrem! Você realmente precisa fazer algo de muito errado para matar um filhote em uma cirurgia de castração. Em um mundo ideal eles estariam vermifugados, vacinados, etc, mas não estamos em um mundo ideal.
Quando estão muito doentes, espero uns 2 dias antes, sob cuidados, para operá-los. Se tiverem batimento cardíaco, vamos castrá-los. Pelo menos eu posso impedir que eles reproduzam.

As grandes vantagens da castração precoce:




1- Nível extremamente baixo de complicações 
2- Nível extremamente baixo de mortes
3- Recuperação extremamente rápida 
4- Tempo de cirurgia reduzido ( menos anestesia, menos materiais, menores custos )
5- Aumenta os benefícios gerais da castração 
6- A certeza de que estes animais nunca irão reproduzir

Alguém já viu filhotes acordando da anestesia? É fenomenal! Dentro de uma hora eles estão brincando, comendo, como se nada tivesse acontecido. Do outro lado você tem o animal de 9 anos de idade que passa dias dormindo, quando se levanta está todo dolorido e você gasta um monte de dinheiro em anti-inflamatórios e ainda tem uma chance maior de complicações.

Castração precoce é o melhor segredo da medicina veterinária e, sinceramente, não sei por que todos os veterinários não estão fazendo. É a coisa mais bem sucedida a se fazer. E, o mais importante, estes filhotes nunca irão reproduzir. O que é o nosso objetivo. 

Tudo que chega a nosso hospital, é castrado.
Não tenho problema em aceitar animais abandonados, mas se alguém chega com uma caixa de gatinhos, a primeira coisa que pergunto – onde está a mãe? 
Eu posso parar o ciclo de abandono naqueles gatinhos, mas preciso da mãe que continua nas ruas. Ah, a mãe é feral? Aqui está a armadilha, capture-a e traga-a para mim e eu cuidarei dos filhotes para você.

(32:57 ) Realmente não há razão para seus veterinários não estarem fazendo isso.
Postado por Felinos Urbanos às 10:41 

Palestra Dr. Jeff Young II



A profissão de veterinário ( 12:36 )
"Em 1993, A Associação de médicos veterinários dos E.U.A, e este é um grupo bem conservador de pessoas, decidiram que a castração precoce não era algo ruim, que poderia ser uma ferramenta muito importante para evitar a super população, mas a grande maioria dos profissionais da área disseram que não queriam fazê-lo. Por que? Bom, simplesmente porque durante a graduação, você aprende que só pode castrá-los aos 6 meses, 9 meses, 10 meses, qualquer idade superior a isso. E a pergunta é: por que? Não há nenhuma prova cientifica por trás disso. Nenhuma mesmo. Essas ideias são baseadas apenas na tradição. Pergunte ao seu veterinário, por que você não faz castração precoce? 

Nos últimos 20 anos há vários estudos sobre o assunto, mas há uma grande diferença entre a correlação e causa. Um exemplo que eu adoro citar é: se a venda de sorvetes em N.Y cresce, também aumenta a taxa de assassinatos. E eu posso lhes mostrar o estudo cientifico dessa conclusão. 

A parte lógica do meu cérebro diz: então apenas parem de vender sorvetes e as taxas de assassinatos diminuíram, certo? Mas na verdade, aumentam-se as vendas de sorvete por causa do aumento da temperatura do ambiente, isso não é extraordinário, mas se você os jornais a conclusão será: a venda de sorvetes causa assassinatos. 

Como veterinários, nós somos muito ruins em relação à causa, como sociedade, como espécie, somos muito ruins para encontrar a causa das coisas. 

Uma das minhas historias favoritas: Eu castrei o cão de um senhor aos 3 meses de idade. 5 meses depois, recebi uma ligação em que o dono do cão me ameaçava por ter matado o animal dele. E eu perguntei o que aconteceu. O senhor disse – meu cão nunca havia pulado a cerca antes de ser castrado. Ele pulou a cerca, foi atropelado e morreu. E por alguma razão a culpa disso tudo foi minha, depois de 5 meses. Perguntei: será que existe alguma chance de seu cão ter crescido nestes últimos 5 meses? Ou havia um buraco na cerca? Então, como veterinários, vocês podem identificar que, vocês fazem algo e tudo o que ocorre após isso é por causa da sua intervenção. E não é isso que acontece. 

Quero ver estudos direcionados para a castração precoce pois a grande maioria das pesquisas são feitas para populações em geral, que não analisam as particularidades de COMO os animais que são castrados e desenvolvem algum problema de saúde são criados. Conhecemos pessoas que vivem com animais em quintais, amarrados, que não tem qualquer intervenção veterinária além da castração e não levamos esses aspectos em consideração. 

A boa noticia é que mais faculdades de veterinária estão ensinando castração precoce e eles não se atrelam a problemas específicos, pedindo mais dinheiro para pesquisas, para aprimoramento.  E isso vem acontecendo a uns 20 anos. 

Alguém gostaria de fazer alguma pergunta em relação a um problema atrelado à castração precoce que escutaram de seus veterinários? 

Incontinencia? Existem literaturas que indicam que, animais castrados precocemente são menos propensos à incontinência. Eu associo incontinência a excesso de peso, a hipotiroidismo, problemas alérgicos, e há bastante literatura sobre isso. 

Se você olhar para raças em especifico, algumas raças são  muito propensas à hipotireoidismo. Você não vê isso em raças pequenas com frequência ou em cães machos, acontece com maior regularidade em fêmeas de porte grande, que estão acima do peso. E fêmeas que são castradas tem 2x mais chances de estarem obesas do que as não-castradas e qual a razão disso? O meu argumento é que, elas moram conosco e já que temos a tendência de comer demais, também temos a tendência de alimentar nossos animais além do necessário. 

Também afirmo que eles não precisam ser obesos. Tenho somente cães castrados e nenhum deles está acima do peso. Você não precisa ser aquela porcentagem da população com cães obesos, você pode ser a outra parcela, que exercita seus cães, os mantém com peso ideal e que não tem incontinência urinária. Há muitos fatores envolvidos. 

Tambem devemos levar em consideração a técnica cirúrgica. Se você está usando Catgut  na base do útero, você não está fazendo o correto para o animal. Se eu tenho um estudo cientifico sobre isso? Não. Mas é a minha experiência, já remexi dentro de animais o suficiente, tirando grandes granulomas. Quando você corta e amarra o útero, ele retrai bem na bexiga e é onde os problemas de incontinência começam. O tipo de sutura é muito importante. 

Na Costa Rica eles tiveram grandes problemas com castração precoce pois estavam usando nylon da espessura do meu dedo. Você não acha que é um problema, algo assim, se esfregando em uma bexiga? Não faria isso com nenhum animal. Mas, é mais barato, mais rápido e por isso eles fazem, mas quando tem todos esses problemas, não sabem o motivo. Se você for fazer algo, faça direito. 

E, por isso, eu daria mais motivos para explicar incontinência. Femeas que já tiveram muitas ninhadas tem um aumento entre 4% a 8% de chances de apresentar incontinência, aumento de peso também, mas entre 8% a 16% terão incontinência se forem castradas. A pergunta é: será que podemos pegar esse percentual de 8 a 16% e diminuirmos isso através da mudança de técnicas cirúrgicas, nos certificando que elas não irão ganhar peso, lidando corretamente com o hipotireoidismo?

Algumas raças como Dobbermans, adivinhem só, terão incontinência. Boxers terão incontinência, pois tem uma grande chance de hipotireoidismo, sempre estão acima do peso ou possuem algum outro problema, então há muitas outras causas envolvidas. 

(19:48 ) Novamente, sendo aquele tipo de pessoa que vê o copo meio vazio, sempre me pergunto se estamos fazendo a diferença. Nos anos 70-80, estávamos matando 24 milhões de animais por ano nos E.U.A. Acho que era algo como 16 mil, por dia. E agora eles dizem que são 3 milhões. Não acredito nos 24 milhões, não acredito nos 3 milhões  acho que o real seria aproximadamente 30 milhões e neste exato momento estamos perto dos 6 milhões. Mas mesmo utilizando os números oficiais, ou mesmo os meus, é uma queda extremamente considerável neste período. É algo tremendo, algo que pode ser feito, este é o objetivo que precisamos ter em vista, pois está lá, é a possibilidade de atingir algo. 

Tudo isso tem a ver com educação, algo que fazemos muito pouco, como médicos veterinários. Somos MUITO ruins em relação à conscientização de pessoas. Alguém traz um cão mestiço “Ele é muito legal, quero reproduzi-lo, todo mundo gosta dele.” –  Como assim?

“A fêmea tem que ter uma ninhada antes de sossegar.” Nossa... então é melhor eu ter um filho com minha esposa pois ela não está muito sossegada. Ela já está nos 40, talvez seja um pouco tarde. 

Temos uma lista de grupos e faculdade que realizam castração precoce, há grandes nomes nesta lista, algumas das melhores universidades do mundo, então, como, no papel de um profissional, eu posso dizer “não acredito nisso, tem que ser ruim”, se todo  mundo está acreditando, por que você não acredita? E aí voltamos ao ponto da tradição. É algo que eles temem. 


lista de faculdades e grupos de proteção que são a favor da castração precoce 

Nós, como profissionais de veterinária, temos medo de mudanças. Realmente temos. Sempre temos medo de algo diferente. Tente mudar o protocolo anestésico de alguém, eles enlouqueceram pois eles morrem de medo de matar um animal, de algo dar errado. Lógico que existe uma boa razão para se preocupar e sentir medo de mudanças, mas isso não deve ser motivo para não fazer algo em relação à massiva superpopulação de animais, à massiva destruição do que consideramos animais de companhia. (22:03 )

Não faz muito sentido para mim, mas lembrando que não sou o cara mais inteligente do mundo, como você leva um animal com a perna quebrada até um bom hospital e escuta: bom, são 3 mil dólares para consertar a perna dele. As pessoas sentadas lá, uma família com 3 crianças, passando necessidade já que a economia não está boa no momento, dizem: eu não tenho 3mil dólares. E o veterinário diz: bem, podemos colocá-lo para dormir, matá-lo para você, por 100 dólares.

 Onde está o valor do animal? O que você, como profissional, diz a essas pessoas? Se você tem 3mil dólares eu irei consertar o seu cão e vou fazer valer cada centavo, mas eu o mato por 100. Não consigo entender isso. E não há nada no meio disso? Como isso é possível? Não faz sentido para mim.

Posso fazer a mesma cirurgia de 3mil dolares por 300 dolares e ainda consigo ganhar dinheiro com isso. Como é possível eu conseguir fazer isso e eles não? Eles não querem “diminuir seus padrões”, mas o que isso significa? Você não está “diminuindo padrões”, você está salvando uma vida.

E se você olhar em uma dimensão maior, você tem uma família, 3 crianças que gostam do cão, vamos dizer que o cão pulou do carro, alguma coisa aconteceu, ninguém sabe o que houve, mas o que importa é que ninguém deseja que algo assim aconteça, aconteceu e eles não tem o dinheiro. Então o melhor que podemos fazer, como uma sociedade moderna, como  profissionais, é dizer: o matamos para você? 

Acho isso revoltante, mas essa é uma das razões de alguns veterinários não gostarem muito de mim."
  
SÁBADO, 22 DE DEZ

CONTINUA

Castração Precoce - Palestra Dr. Jeff Young I

Feliz ano novo pra todo mundo.

Hoje, 09.01.2013 a Operação Gato de Rua retoma suas atividades, com a gatoeira nova em ação - a drop trap - que, teoricamente, vai me facilitar muito a vida.

Quero postar hoje sobre um assunto ainda controverso em alguns meios. Castração precoce ou pediátrica, que não é nada mais do que a castração em filhotes a partir de dois meses. Sim, dois meses.

Muito veterinários - e não somente no Brasil - ainda acham arriscado fazer o procedimento, por acharem que vão prejudicar o crescimento do animal, suas funções hormonais e mais outros motivos. A questão é muito simples:  isso, simplesmente, não acontece.

A prática da  castração precoce já é utilizada há muitos anos em países como os EUA - mas mesmo lá ainda há resistência por parte dos profissionais. Quando não realizada, o animal é doado inteiro, entra em fase reprodutiva já a partir dos quatro meses dependendo da situação, tem filhotes, que terão filhotes e terão filhotes, de uma maneira assustadora que só quem lida com isso sabe. Dá medo! E pensar que a maioria dos filhotes não terá um lar, morrerá precocemente, sofrerá maus tratos na rua e muitos outros fatores sobre o qual já escrevi algumas vezes!

Como vocês sabem, eu me inspiro no trabalho da Otávia Mello de São Luiz do Maranhão, no Projeto Felinos Urbanos. Tomei a liberdade de copiar aqui pra vocês a tradução de uma palestra que ela postou no blog dela:  www.felinosurbanos.blogspot.com.

Meu sonho? É que todos os animais doados - sejam eles gatos ou cachorros - estejam castrados, para que, aos poucos, em passo de tartaruga a questão do abandono seja diminuída. É trabalho de formiguinha, uma vez que a maioria das pessoas não castra nem seus animais adultos, quanto mais os filhotes que eles produzem. Todos só querem saber de se livrar dos bebês o mais rápido possível porque é caro e dá trabalho. E ainda tem ONGs de proteção animal em todo o Brasil que, por diversos motivos - falta de espaço, desinformação, falta de verba - não realizam castração em filhotes menores de seis meses, doando-os inteiros e ajudando a eternizar a questão do abandono. Dando tiros nos próprios pés, pois, um filhote doado  hoje sem castrar terá filhotes em um ano (quando muito), que irão para as ruas, serão resgatados pelas mesmas ONGs, doados sem castração pelos mesmos motivos de sempre, terão filhotes, que serão abandonados - porque nós sabemos que não tem lar para todos - resgatados pelas ONGs que doaram os filhotes do começo da frase, doados sem castração e assim, até o fim dos tempos. Ou, pelo menos, até o dia em que se conscientizem que investir a verba escassa em castração dos filhotes antes de doar é mais prioritário do que tratar um cão com cinomose em fase avançada ou gravemente ferido - mas esta é apenas minha opinião pessoal.

Aproveitem o texto. É um pouco longo - dividi, como no original dos Felinos Urbanos, em três partes, mas muito bom, muito esclarecedor. Ideal seria se, além dos "leigos", também profissionais da veterinária lessem e assistissem para acabar com preconceitos e tirar dúvidas. Então divulguem, por favor, com os devidos créditos à Otávia e aos Felinos Urbanos.

Grande abraço pra todo mundo. E que em 2013 a Operação Gato de Rua possa continuar fazendo sua parte, sem perder o foco, sem desanimar. E que apareçam mais pessoas com a consciência de que, uma vez  que não temos apoio do poder público para nossas castrações, cada um precisa colaborar.



Navegando pela internet, descobri essa palestra do Dr.Jeff Young, um grande nome da medicina veterinária e controle populacional e humanitário nos E.U.A, diretor da Planned Pethood Plus USA, utilizador da castração precoce desde sua graduação, em 1987.




Dr.Jeff em mutirão :)

Ele foi convidado para falar sobre as vantagens da castração precoce em uma palestra para acadêmicos veterinários em Queesland, Australia, em 2011.

Além dos aspectos médicos, o Dr.Jeff também aborda toda a importância da castração nos aspectos sociais e em prol da guarda responsável, não somente pela população em geral mas também o tomar de responsabilidade que veterinários e protetores necessitam ter quanto a superpopulação animal e eutanásia.

Não foi possível legendar o vídeo, então traduzi partes mais importantes da palestra, dividido em alguns posts.

Estes são os primeiros 12:36 minutos:

(01:02) "Me considero o tipo de pessoa que vê o copo meio vazio e, ao dizer isso, acredito firmemente que a nossa unica obrigação na vida é tentar. E minha pergunta é: estamos tentando com um proposito em mente? Estamos fazendo a diferença? E acho que essas são as coisas que você precisa se perguntar todo dia.
 
Trabalhei no controle de animais, fiz veterinária e participei do controle de animais. Isso mudou a minha visão do mundo e de como estamos tratando os nossos animais de estimação. Foi fenomenal para mim.

(03:15 ) Estou falando de castração, castração precoce. Qual a idade ideal?
 
Se você faz parte da Humane Society NADA deveria deixar os abrigos sem ser esterilizado antes. Ponto final, sem discussão. Acredito que, hoje em dia , se você não castra um animal que irá para adoção, você está fazendo algo de errado. E, mesmo assim, em todo o país são feitos contratos de castração e eles não funcionam, simplesmente não funcionam. 

Como veterinário que atua em consultório, eu posso atender o seu animal, dar vermífugos, vacinas, etc. e então castrá-lo às 16 ou 20 semanas, quando eles ainda não irão reproduzir. Mas o meu lado que está envolvido com a Humane Society irá castrar qualquer coisa. Já castrei animais com 24hrs de nascidos. Se o coração está batendo, irei castrá-los. Não tenho nenhum problema com isso. Minha única ressalva: precisam ter um batimento cardíaco. Senão, não será muito proveitoso depois             ( risos ). 

(04:40) Atualmente, quase 10% dos veterinários nos EUA realiza castração precoce, o que é algo crescente, mas não acredito que atingirá mais do que 20%. Mas, o relevante é, os profissionais que estão realizando essas castrações o estão fazendo em grande escala e são muito bons no que estão fazendo e, eu pessoalmente considero, um dos melhores segredos guardados da medicina veterinária: na castração precoce o tempo de duração da anestesia é menor, há tantos outros pontos positivos e, sabem, eles não morrem. É simplesmente maravilhoso. Filhotes não morrem ao serem anestesiados para castração. São chamadas de castração sem sangue. Você pode pegar qualquer filhote, tirar tudo, cortar, e eles não irão morrer. É fenomenal. E, está escrito nas literaturas, é como as pessoas costumavam fazer. 

(05:30) Lembro de estar na Humane Society uma vez e eles tinham vários gatinhos, muito doentes. E tentei convencê-los a eutanásia-los, eles não quiseram fazer. E pensei – ok, vou castrá-los, então. Eles tinham febre, os olhos grudados ( de infecção ) , estavam muito, muito doentes. Eles não permitiriam que eles saíssem do abrigo sem estarem castrados e não queriam que eu os colocasse para dormir, então castrei todos eles e coloquei mais anestésico do que deveria, pensando – talvez eles irão dormir e morrer. 

Chego no dia seguinte e estão todos correndo em suas gaiolas, comendo – é, realmente não consegui matá-los. E isso é incrível!

(6:02) Há registros sobre castração precoce de cães em 200, 300 A.C , então isso vem acontecendo a muito tempo. Oregon é o berço da castração precoce nos E.U.A. 
 

Nós, veterinários de pequenos animais, temos a tendência de achar que somos médicos ao invés de sermos veterinários e veterinários de grandes animais tem a tendência de serem mais veterinários ao invés de médicos, então há maior senso comum, há o fato da saúde do rebanho e o cavalheiro que estava fazendo castração precoce nos anos 70 veio destes locais de animais de grande porte  e o que ele descobriu, foi:  as pessoas adotavam animais de abrigo que tinham ninhadas e depois ele estava recebendo as ninhadas dos animais doados no ano passado, neste mesmo abrigo. E nos anos seguintes ele tinha mais ninhadas destes mesmos animais. E ele pensou – isso é loucura, por que não esterilizamos todos eles? Fazemos isso em porcos, em ovelhas, em animais bem mais jovens , então por que não fazer com todos os animais? E os diretores do abrigo disseram: boa ideia.

Não era controverso, já que ninguém sabia nada a respeito de castração precoce. 
E ele simplesmente fez.
Com isso os números de eutanásia foram reduzidos drasticamente.

(07:26) Leiberman é considerado o pai da castração precoce, tendo publicado um artigo em 1987. Na época foi muito controverso, ele recebeu cartas inacreditáveis, dizendo que aquilo era horrível, mas, na mesma idade, levamos nossos bebês para serem circuncidados. E sem anestesia, devo acrescentar.
 

O ponto é: ele tinha um excelente argumento. Ele assistiu um numero tremendo de animais sendo eutanasiados por nenhuma outra razão além de terem nascido e como você para isso? Você os castra antes da maturidade sexual. 


Me graduei em 1987 e o conheci no verão de 1987 e desde então venho castrando qualquer coisa que tenha um batimento cardíaco.

O primeiro estudo sobre castração precoce, 7 semanas x 7 meses foi feito em 1991 na Universidade da Florida e naquela época, nada de negativo foi apontado. O maior mito que você escuta é que, se forem castrados os animais irão parar de crescer, mas na verdade, o oposto acontece. Na ausência de hormônios sexuais os animais crescem mais, mas não é algo tão significativo.
Quantos de vocês assinaram um contrato de adoção? Você assina um termo se comprometendo a trazer o animal de volta para ser castrado depois de uma época. Garanto a vocês que nunca chegam aos 100%. Não é possível. No Colorado, o governo decidiu se envolver com o controle populacional e disseram “você leva o seu animal adotado do abrigo para qualquer veterinário da região e ele será castrado gratuitamente, nós pagaremos o veterinário.” 30% das pessoas apareceram no primeiro ano. Isso representa 70% da população animal.  



Nos EUA temos 8 milhões de cães e 96 milhões de gatos. Não interessa se você castra 70% dos animais, pois você ainda acaba com uma superpopulação. A razão é simples: sexo para eles é como universitários em uma sexta a noite com muita cerveja. Eles não se importam. E os animais são motivados por hormônios e eles irão arrumar um jeito ( para reproduzir ).


Se a regra dos 70% fosse verdadeira, não teríamos um problema de superpopulação de animais, já que por volta de 87% dos gatos já estão castrados e 76% dos cães. Então, se já temos 70% dos animais castrados por que ainda temos um problema de superpopulação?

Você pode dizer que isso é causado pelas pessoas que não adotam dos locais adequados, mas isso realmente importa para o animal que será eutanasiado?

Eutanásia ainda é a causa numero 1 de morte de animais de estimação nos E.U.A. Pelo simples ato da castração você DOBRA a estimativa de vida de um cão de rua e pode acabar sendo uma vida bem decente. 


Considero a castração precoce uma ferramenta, nada além disso. É uma daquelas coisas fáceis de fazer, é melhor para os animais, toda instituição de bem estar para os animais deveria fazer e, francamente, como membro da Humane Society, não sei como podemos falar sobre ética e dizer “você tem que castrar seu animal, é para o bem dele, para o bem da sociedade e você precisa fazê-lo, mas estamos doando animais por contrato e não conseguimos castrar todos depois.” 

CONTINUA