quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Palestra Dr. Jeff Young II



A profissão de veterinário ( 12:36 )
"Em 1993, A Associação de médicos veterinários dos E.U.A, e este é um grupo bem conservador de pessoas, decidiram que a castração precoce não era algo ruim, que poderia ser uma ferramenta muito importante para evitar a super população, mas a grande maioria dos profissionais da área disseram que não queriam fazê-lo. Por que? Bom, simplesmente porque durante a graduação, você aprende que só pode castrá-los aos 6 meses, 9 meses, 10 meses, qualquer idade superior a isso. E a pergunta é: por que? Não há nenhuma prova cientifica por trás disso. Nenhuma mesmo. Essas ideias são baseadas apenas na tradição. Pergunte ao seu veterinário, por que você não faz castração precoce? 

Nos últimos 20 anos há vários estudos sobre o assunto, mas há uma grande diferença entre a correlação e causa. Um exemplo que eu adoro citar é: se a venda de sorvetes em N.Y cresce, também aumenta a taxa de assassinatos. E eu posso lhes mostrar o estudo cientifico dessa conclusão. 

A parte lógica do meu cérebro diz: então apenas parem de vender sorvetes e as taxas de assassinatos diminuíram, certo? Mas na verdade, aumentam-se as vendas de sorvete por causa do aumento da temperatura do ambiente, isso não é extraordinário, mas se você os jornais a conclusão será: a venda de sorvetes causa assassinatos. 

Como veterinários, nós somos muito ruins em relação à causa, como sociedade, como espécie, somos muito ruins para encontrar a causa das coisas. 

Uma das minhas historias favoritas: Eu castrei o cão de um senhor aos 3 meses de idade. 5 meses depois, recebi uma ligação em que o dono do cão me ameaçava por ter matado o animal dele. E eu perguntei o que aconteceu. O senhor disse – meu cão nunca havia pulado a cerca antes de ser castrado. Ele pulou a cerca, foi atropelado e morreu. E por alguma razão a culpa disso tudo foi minha, depois de 5 meses. Perguntei: será que existe alguma chance de seu cão ter crescido nestes últimos 5 meses? Ou havia um buraco na cerca? Então, como veterinários, vocês podem identificar que, vocês fazem algo e tudo o que ocorre após isso é por causa da sua intervenção. E não é isso que acontece. 

Quero ver estudos direcionados para a castração precoce pois a grande maioria das pesquisas são feitas para populações em geral, que não analisam as particularidades de COMO os animais que são castrados e desenvolvem algum problema de saúde são criados. Conhecemos pessoas que vivem com animais em quintais, amarrados, que não tem qualquer intervenção veterinária além da castração e não levamos esses aspectos em consideração. 

A boa noticia é que mais faculdades de veterinária estão ensinando castração precoce e eles não se atrelam a problemas específicos, pedindo mais dinheiro para pesquisas, para aprimoramento.  E isso vem acontecendo a uns 20 anos. 

Alguém gostaria de fazer alguma pergunta em relação a um problema atrelado à castração precoce que escutaram de seus veterinários? 

Incontinencia? Existem literaturas que indicam que, animais castrados precocemente são menos propensos à incontinência. Eu associo incontinência a excesso de peso, a hipotiroidismo, problemas alérgicos, e há bastante literatura sobre isso. 

Se você olhar para raças em especifico, algumas raças são  muito propensas à hipotireoidismo. Você não vê isso em raças pequenas com frequência ou em cães machos, acontece com maior regularidade em fêmeas de porte grande, que estão acima do peso. E fêmeas que são castradas tem 2x mais chances de estarem obesas do que as não-castradas e qual a razão disso? O meu argumento é que, elas moram conosco e já que temos a tendência de comer demais, também temos a tendência de alimentar nossos animais além do necessário. 

Também afirmo que eles não precisam ser obesos. Tenho somente cães castrados e nenhum deles está acima do peso. Você não precisa ser aquela porcentagem da população com cães obesos, você pode ser a outra parcela, que exercita seus cães, os mantém com peso ideal e que não tem incontinência urinária. Há muitos fatores envolvidos. 

Tambem devemos levar em consideração a técnica cirúrgica. Se você está usando Catgut  na base do útero, você não está fazendo o correto para o animal. Se eu tenho um estudo cientifico sobre isso? Não. Mas é a minha experiência, já remexi dentro de animais o suficiente, tirando grandes granulomas. Quando você corta e amarra o útero, ele retrai bem na bexiga e é onde os problemas de incontinência começam. O tipo de sutura é muito importante. 

Na Costa Rica eles tiveram grandes problemas com castração precoce pois estavam usando nylon da espessura do meu dedo. Você não acha que é um problema, algo assim, se esfregando em uma bexiga? Não faria isso com nenhum animal. Mas, é mais barato, mais rápido e por isso eles fazem, mas quando tem todos esses problemas, não sabem o motivo. Se você for fazer algo, faça direito. 

E, por isso, eu daria mais motivos para explicar incontinência. Femeas que já tiveram muitas ninhadas tem um aumento entre 4% a 8% de chances de apresentar incontinência, aumento de peso também, mas entre 8% a 16% terão incontinência se forem castradas. A pergunta é: será que podemos pegar esse percentual de 8 a 16% e diminuirmos isso através da mudança de técnicas cirúrgicas, nos certificando que elas não irão ganhar peso, lidando corretamente com o hipotireoidismo?

Algumas raças como Dobbermans, adivinhem só, terão incontinência. Boxers terão incontinência, pois tem uma grande chance de hipotireoidismo, sempre estão acima do peso ou possuem algum outro problema, então há muitas outras causas envolvidas. 

(19:48 ) Novamente, sendo aquele tipo de pessoa que vê o copo meio vazio, sempre me pergunto se estamos fazendo a diferença. Nos anos 70-80, estávamos matando 24 milhões de animais por ano nos E.U.A. Acho que era algo como 16 mil, por dia. E agora eles dizem que são 3 milhões. Não acredito nos 24 milhões, não acredito nos 3 milhões  acho que o real seria aproximadamente 30 milhões e neste exato momento estamos perto dos 6 milhões. Mas mesmo utilizando os números oficiais, ou mesmo os meus, é uma queda extremamente considerável neste período. É algo tremendo, algo que pode ser feito, este é o objetivo que precisamos ter em vista, pois está lá, é a possibilidade de atingir algo. 

Tudo isso tem a ver com educação, algo que fazemos muito pouco, como médicos veterinários. Somos MUITO ruins em relação à conscientização de pessoas. Alguém traz um cão mestiço “Ele é muito legal, quero reproduzi-lo, todo mundo gosta dele.” –  Como assim?

“A fêmea tem que ter uma ninhada antes de sossegar.” Nossa... então é melhor eu ter um filho com minha esposa pois ela não está muito sossegada. Ela já está nos 40, talvez seja um pouco tarde. 

Temos uma lista de grupos e faculdade que realizam castração precoce, há grandes nomes nesta lista, algumas das melhores universidades do mundo, então, como, no papel de um profissional, eu posso dizer “não acredito nisso, tem que ser ruim”, se todo  mundo está acreditando, por que você não acredita? E aí voltamos ao ponto da tradição. É algo que eles temem. 


lista de faculdades e grupos de proteção que são a favor da castração precoce 

Nós, como profissionais de veterinária, temos medo de mudanças. Realmente temos. Sempre temos medo de algo diferente. Tente mudar o protocolo anestésico de alguém, eles enlouqueceram pois eles morrem de medo de matar um animal, de algo dar errado. Lógico que existe uma boa razão para se preocupar e sentir medo de mudanças, mas isso não deve ser motivo para não fazer algo em relação à massiva superpopulação de animais, à massiva destruição do que consideramos animais de companhia. (22:03 )

Não faz muito sentido para mim, mas lembrando que não sou o cara mais inteligente do mundo, como você leva um animal com a perna quebrada até um bom hospital e escuta: bom, são 3 mil dólares para consertar a perna dele. As pessoas sentadas lá, uma família com 3 crianças, passando necessidade já que a economia não está boa no momento, dizem: eu não tenho 3mil dólares. E o veterinário diz: bem, podemos colocá-lo para dormir, matá-lo para você, por 100 dólares.

 Onde está o valor do animal? O que você, como profissional, diz a essas pessoas? Se você tem 3mil dólares eu irei consertar o seu cão e vou fazer valer cada centavo, mas eu o mato por 100. Não consigo entender isso. E não há nada no meio disso? Como isso é possível? Não faz sentido para mim.

Posso fazer a mesma cirurgia de 3mil dolares por 300 dolares e ainda consigo ganhar dinheiro com isso. Como é possível eu conseguir fazer isso e eles não? Eles não querem “diminuir seus padrões”, mas o que isso significa? Você não está “diminuindo padrões”, você está salvando uma vida.

E se você olhar em uma dimensão maior, você tem uma família, 3 crianças que gostam do cão, vamos dizer que o cão pulou do carro, alguma coisa aconteceu, ninguém sabe o que houve, mas o que importa é que ninguém deseja que algo assim aconteça, aconteceu e eles não tem o dinheiro. Então o melhor que podemos fazer, como uma sociedade moderna, como  profissionais, é dizer: o matamos para você? 

Acho isso revoltante, mas essa é uma das razões de alguns veterinários não gostarem muito de mim."
  
SÁBADO, 22 DE DEZ

CONTINUA

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