terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Impotência X primavera

Eu adoro a primavera com seus sabiás cantantes e ipês amarelos floridos. Amo, de paixão.

Mas tem uma coisa que eu detesto nesta época do ano: o excesso de filhotes de gatinhos por aí, abandonados pelos humanos cruéis, ou simplesmente nascidos nos matos, frutos da irresponsabilidade dos mesmos humanos cruéis. Muito difícil.

Não posso dizer quantos chamados e pedidos de socorro recebi nos últimos dias. Para dois, para seis, para quatro filhotes. Fora o amarelo que apareceu no meu quarteirão, que eu não consegui pegar. Estou torcendo para que ele seja o que a vizinha resgatou. Fora os das quatro gatinhas de colônia que acabaram nascendo por conta da minha falta de tempo ou simplesmente pela impossibilidade de captura, no caso da Filha Dela.

Fui entregar a ração do GatoMia pra Marli, a alimentadora de 30 gatos de rua e ela, com um olhar triste, me contou que derrubaram a casa abandonada onde três gatinhas que castramos se acomodavam. Elas, indo parara no forro de uma casa da redondeza, agora ameaçadas de morte, por uma senhora que não gosta de suas presenças. Mesmo não incomodando ninguém - moram num mato imenso, imagino que só se abriguem à noite e em dias de chuva. E dor da Marli, por não ter condição financeira nenhuma de fazer alguma coisa pelas gatinhas.

Também me falou da outra gata, uma das que tiveram bebês, que está só "couro e osso", com seus cinco filhotes, ariscos e magricelas também. E sofreu, por não poder ajudar mais uma. Não mais do que ajuda com a alimentação e água fresquinha, todo dia, sob chuva ou sob sol.

No domingo, um pedido de resgate para dois filhotes mansos, perto de uma casa com cinco cães agressivos. 

Aí vim fazer um treinamento aqui em Campinas, onde estou no momento. Saio pra dar uma caminhada e o que eu vejo? Um gato manso, mas sujo e molambento, perto de uma lixeira. Não fugiu de mim, ficou me olhando. E meu coração cortou e doeu, porque estou a pé, fora de casa, não tinha dinheiro pra comprar uma ração e não pude fazer nada por ele. Continuando a caminhada ainda me deparei com:

uma casa telada e três gatos na garagem - mas as telas tinham buracos enormes
uma casa sem tela com um gato fofo na garagem - e total acesso à rua
uma casa com um bulldog inglês macho bagudo e uma boxer fêmea, assim com sete filhotes misturados, fofos e deliciosos. Nove cães ao todo. Filhotes grandes, todos inteiros, os nove.
um gato de rua, esbelto e ágil, andando pelo telhado.
um gato sialata, bem tratado, tentando jantar uma pomba.

Volto pro hotel e recebo um apelo de resgate para gatinhos perto de uma rua movimentada de Blumenau. Apelo urgente. E eu longe. E os LTs todos lotados de gatinhos socorridos, ninhadas abandonadas inteiras. 

O gato da lixeira me cortou o coração. O olhar dele, resignado. E eu não pude fazer nada.

Quando será que vou começar a ver os resultados das minhas castrações? Quando as pessoas vão castrar seus animais pra que não se reproduzam e elas não precisem abandonar filhotes indesejáveis? Quando as pessoas vão se conscientizar de que têm que prender seus gatos para que eles não se percam por aí e não terminem tendo que procurar comida na lixeira e não sejam os responsáveis pelo nascimento de outros tantos gatinhos de rua que precisam procurar comida na lixeira? 
E como elas dizem que amam seus animais? Porque quem ama, cuida. Tranca em casa. Castra.

Estou precisando ganhar na Mega-Sena com urgência pra comprar um locar gigantesco, escondido e ajudar a esses pequenos que podem ser ajudados. Acabar com o sofrimento dos que, sendo mansos, têm chance de ganhar um lar. Cansei de não poder ajudar a todos. A tal da impotência dói. Ter que seguir em frente e deixar o bicho ali na necessidade, me faz querer fugir pra marte. Porque não dá pra resgatar todos, são muitos e os recursos, escassos.E juízo na cabeça dos homens, nenhum.

Por isso faço C.E.D. - porque não dá pra tirar todo mundo das ruas, então trabalhamos para que não nasçam mais tantos nas ruas.  Mesmo muito feliz com o resultado do GatoMia  (faço um post em breve), vejo que temos, ainda, muito trabalho pela frente. Só espero estar viva pra ver a melhora real.

Fico cansada só de pensar que, enquanto o ser humano continuar agindo como se o problema não fosse dele, vou ficar dando murro em ponta de faca.

Então o jeito é ir dormir e retomar minhas capturas quando voltar pra casa. Não sei nem dizer também quantos são os chamados para fêmeas recém paridas, que desesperam os alimentadores pelo volume de gatos que se multiplica rapidamente.

Quem sabe ainda vejo um setembro/outubro/novembro sem superpopulação de gatinhos?! 

Me deixa sonhar, porque é época de acreditar em papai noel.

HO HO HO.

Maria Cecília


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