domingo, 15 de junho de 2014

Tira esses gatos daqui!!!!!


No ano passado, fiz uma palestra no nosso Encontro Nacional de CED (que vai acontecer de novo em novembro 2014) sobre a devolução. Um dos meus tópicos, na palestra, foi o remanejamento de colônias. Até então, pra mim, era teoria, ou quase.  Até que, em maio de 2014, os vizinhos dos pobres gatos resolveram incorporar o mal, a intolerância, a ignorância, a crueldade e, claro, sobrou pros pobres animais. E, porque tragédia pouca é bobagem, aconteceu não em uma, mas em duas de nossas colônias.

Na primeira, a alimentadora é pessoalmente xingada por um vizinho imbecil que fica ameaçando matar os gatos "dela", se não forem tirados imediatamente dali. Só que os gatos não são dela, são da cidade de Blumenau, ela apenas dispõe de seu tempo e boa vontade, por amor a alimentar os bichinhos. Sob sol, sob chuva.  A vizinhança entende que, por ela se preocupar com o bem estar dos animais, é responsável por tirá-los dali. Claro que ela também se responsabiliza e perde noites de sono, saúde, tempo, lágrimas, tentando encontrar uma solução. Porque ninguém ajuda em nada, é só xingamento, só exigência. Não quero deixar que chamem a Prefeitura, porque não posso nem imaginar que eles sejam levados para o famigerado abrigo municipal - pelo único motivo de que não gostam muito de humanos, além dela. E não devem ser colocados para adoção, pois são ariscos. Então assumimos a bronca e estamos ajudando a remanejar sete gatinhos, de uma colônia de treze. Porque os outros oito não entram na casa do vizinho infeliz. Só mais um detalhe: o vizinho mora ali há anos e, apesar de já ter reclamado dos gatos anteriormente, nunca se comportou deste jeito. Então, por medo do que ele pode fazer, estamos nos virando.

tubos colocados pela alimentadora para os gatinhos brincarem 

A causadora do transtorno foi nossa gatinha Matriarca, que, aparecendo ali há alguns meses, teve seus bebês. Claro que não um ou dois, mas cinco. Juntamente com seus rebentos, ainda tem mais duas mocinhas que adoram fazer cocô no quintal do tal homem. De propósito, será?
nós, tentando conseguir um pouco de compreensão


A alimentadora tratou de pedir ajuda e, por fim, conseguiu a casa de uma senhora, que tem um quintal de mata, bem legal, além de dezesseis gatos próprios. Levamos os primeiros há algumas semanas, levamos mais dois duas semanas atrás e hoje ainda vamos tentar pegar os três últimos que faltam. Seria perfeito, se não fosse o fato de a mulher que agora cuida dos gatos, ficar ligando pra nossa alimentadora, que não tem condição nem de comprar comida pra ela, exigindo que esta sustente seus dezesseis gatos próprios. Claro que para os remanejados ela está mandando ração. Mas para os da mulher???? Por quê? Perguntei e a resposta foi: "eu não vou trabalhar de graça". O que os gatos comiam antes de levarmos os outros sete? Sinceramente, acho que sou ingênua em acreditar que pessoas façam alguma coisa sem esperar nada em troca. Porque não custaria NADA colocar a comida nos potes (comida que a alimentadora providencia, potinhos e cobertores que ela mesma levou). Não é fácil lidar com o ser humano, juro que não é. Nosso maior desafio nesta colônia é pegar os gatos, pois, sendo todos já castrados pela OGR, não chegam nem perto da gatoeira. Os que ela conseguia pegar na mão já levamos. Os remanescente são os mais ariscos.

gaiola onde ficaram por duas semanas, no novo lar

o quintal do novo lar, onde, hoje, já vivem soltos

gaiolas cheias de gatinhos sendo remanejados

a freguesia, com as gatoeiras em pé ao lado

a alimentadora, disfarçando para o gato entrar onde deveria



O outro caso é semelhante no que diz respeito à intolerância humana. Uma pessoa irresponsável se mudou do apartamento, abandonando sua gatinha prenhe. Claro que ninguém se prontificou a castrar a gata. Afinal de contas, não era problema deles, né? Algumas pessoas conseguiram pegar alguns gatinhos, mas a mamãe continuou - e continua - lá, inteira. 

Os gatos passaram a ser alimentados por pessoas que se compadecem de sua situação e, segundo a maioria dos moradores, foi por isso que os gatos ficaram. Sim, foi mesmo, provavelmente. Minha pergunta é apenas uma: por que não castraram a gata quando era UMA? Ah é, lembrei: não era problema deles.

Fomos chamados a participar de duas reuniões de condomínio, sendo que só uma vingou. E por que vingou? Porque as crianças estão adquirindo bicho geográfico, devido ao acúmulo de fezes de gatos no bosque. Ok, concordo. Não é legal ver um bebê de um ano e meio com o pezinho inchado e cheio de desenhos. Mas, me digam: por que deixar crianças andarem descalças num bosque? Não é um gramado. É um bosque, cheio de árvores, terra, raízes, barranco. Não é lugar pra criança brincar, muito menos pra andar descalça. Já dizia minha avó. Sim, eles pagam condomínio, têm direito de usufruir das dependências. Mas, então, por que não castraram a gata quando era UMA? 

Aqui, preciso ser justa: na primeira reunião, ficou combinado que os gatos poderiam ficar, mas que seria definido um local para a alimentação e que os moradores parariam de jogar comida pelas janelas - pois estavam atraindo ratos e gambás. Tudo bem, eu gostei da solução. Daria tempo de começarmos a castração dos animais, que, naquele momento eram aproximadamente sete. Só que, aparentemente, algumas das alimentadoras não seguiram a regras e continuaram a jogar comida pela janela.

Não conseguimos ir em janeiro, conforme combinado, devido ao grande número de colônias, então começamos em março. Mas, aí já veio a ordem de "parar de alimentar os animais para eles irem embora". 

Então fizeram uma segunda reunião, para a qual fomos convidados por uma das alimentadoras. O clima, na segunda reunião, era de muita hostilidade, todo mundo mostrando fotos ou pés ao vivo de seus filhos "doentes". Foi um festival de pérolas. Teve o relato de uma lá contando que adora gato, mas, quando ficou grávida, o médico mandou que se desfizesse do seu. Ah, os médico bem informados. O que seria de nós sem eles, não é mesmo?

Uma outra, super simpática, dizendo PARA MIM (como se EU fosse a causadora da "desgraça geográfica" deles), "se gosta tanto assim dos bichanos, que cada um pegue um gato e leve para casa". Porque ela gosta mesmo é de cachorro. Ou ainda um que tem três gatos de raça, mas deseja o fim dos pobres abandonados do bosque, só porque não custam o que os dele custaram. Ainda uma lá que levantou no meio da multidão dizendo que "se essa aí (EU, de novo) não tem tempo, "vamos pagar para alguém vir resolver nosso problema" (porque expliquei que precisaria de um tempo, devido a compromissos de trabalho - pra quem não sabe, sim, eu trabalho, tenho uma empresa, que precisa de mim). O síndico me defendeu, dizendo que nós fomos os únicos que se propuseram a ir até lá ajudar, pois tinha já falado com todo mundo. Mas, naquele momento, eu era vista, por muitos, como uma inimiga. Como se o problema, que já não era deles quando a gata era UMA, agora fosse meu, quando eles são, pelo menos, doze.

Aí levanta um senhorzinho, dono da razão e pai de uma veterinária - como se o fato de a filha dele ser veterinária lhe desse o direito de saber de tudo - dizendo que "nunca na história se ouviu dizer que um gato tenha morrido de fome" ( me arrepiei de cara, principalmente porque parece o discurso de uma outra figura, barbuda e asquerosa, que provoca repulsas no meu ser mais íntimo). Como assim, gato não morre de fome? Não entendi. Queria saber quantos gatos ele já salvou? Quantas vezes ele chegou a uma colônia onde um gatinho intruso passasse fome por não poder comer sem a permissão dos outros? Porque eu já passei por isso, pelo menos duas vezes. Tanto que a veterinária não me deixou devolver imediatamente, não antes de eles se recuperarem. 

O outro queria que eu utilizasse dardo tranquilizante. Gente, eu até tentei dopar gato ( na colônia da Nove e Quinze ), mas ali, naquele bosque, à noite, é simplesmente impossível. Porque o gato vai tomar o calmante, vai se esconder e nós não vamos achar, porque não cabemos nas mesmas tocas que eles cabem. Minha coluna não é flexível, nem tanto quanto a de um humano saudável, muito menos como a de um gato. 

Eu até acho que o mundo se equilibra. Ao mesmo tempo que tem gente tão insensível, tem outras que se comovem e se habilitam a ajudar. Gente que se dói por aqueles que não podem se defender. Gente que fala por quem não tem voz. Uma das moradoras, não suportando a injustiça para com os gatinhos, acabou se mudando de lá. A outra já me contou que deve seguir o mesmo caminho," porque não dá pra morar com tanta gente ignorante".

Meu argumento natural seria: por isso que moro em casa, não em prédio. Mas, desde que nos mudamos para a casa nova, esta teoria caiu por terra. Nossa vizinhança aqui é hostil a ponto de ameaçar dar veneno de rato para meus cães e botar fogo na minha casa. O ser humano é fofo, não é?

Mas, enfim, o resultado da reunião foi: os gatos não poderiam mais ser alimentados, para que fizessem o favor de ir procurar comida em outro lugar. E nós teríamos sessenta dias para retirar todos. Até ali, eu não poderia garantir que não morreriam de fome, então fui me informar. Porque se a filha do senhorzinho disse que não morre, então não morre, né? Só que eu não acredito em opinião de inimigo (papel que ele representava naquele momento). Entrei em contato com o pessoal de Oregon (FCCO), que faz CED há trinta anos e, segundo eles, os gatos morreriam de fome sim, caso não fossem mais alimentados. Aí perguntei para outra pessoa que faz CED, que disse que não,não morreriam. Liguei pra minha veterinária e ela disse: sim, morreriam. Pronto, dois a um. Informei ao síndico que, caso os gatos não fossem mais alimentados, eu os denunciaria por maus tratos, pois são dependentes dos cuidados humanos e, já que vamos retirá-los dali, não haveria motivo para ser cruel. 

Moral da história: cada um está fazendo sua parte: alimentadoras alimentam, o síndico recolhe as crianças quando vamos (porque o passatempo predileto deles é aterrorizar os pobre gatos), nós nos disponibilizamos a ir duas vezes por semana e o condomínio arca com as despesas. Filhotes até 4 meses serão sociabilizados para posterior doação, adultos estão sendo remanejados para um outro lugar, onde terão tudo de que precisam e as alimentadoras ajudarão a custear o alimento deles. Só que, se não conseguirmos retirar os gatos dali no prazo determinado, eles vão "dar um jeito" no assunto. E que jeito? perguntei eu na reunião: "sei lá, vamos soltar uns cachorros por ali". Porque, né? Muito mais fácil assim, certo?

Uma vez, conversando com dois amigos da causa, disse que não gosto de fazer doação, porque não gosto dos seres humanos. A resposta deles foi que eu não posso dizer isso, uma vez que tenho uma escola, funcionários, alunos e eles são pessoas. É mesmo, não posso dizer que não gosto de humanos, mesmo porque eu sou uma humana, meu marido, que eu amo, é humano, minha mãe, meus irmãos, meus parentes, amigos - tudo gente :)) 

Então eu não vou mais dizer que não gosto de seres humanos. Mas, posso e vou dizer que, em muitos casos, ainda prefiro os animais.

Um abraço,

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua

* Só para constar: quando começamos o remanejamento no condomínio, tínhamos conhecimentos de 3 gatas adultas, 4 gatos de sexo desconhecido, 5 filhotes de uma das gatas. Hoje, após capturarmos 4 (outras) gatas, uma delas tinha tido bebês, então além dos 5 originais, temos mais três minigatinhos de dois meses. E, pelo menos dois gatinhos pretos de aproximadamente 5 meses, que não faziam parte dos primeiros contados. Já retiramos uma gata mansa que foi doada, uma bravinha, que foi devolvida, pois capturamos antes da ordem de retirar, uma outra fêmea, filhotona de uns sete meses, além de um dos cinco filhotes, um filhotão frajola arisco, uma cinza e branca que tinha tido bebês recentemente e um dos minigatos, seu bebês. Ainda nos faltam: a gata mãe dos cinco filhotes, o irmão da adotada, um gatão cinza, dois frajolas, quatro dos filhotes maiores, dois dos minigatos e os dois pretinhos. Esses são os que nós já vimos. Esperamos que pare por aí. Isso tudo, porque enquanto era UMA gata, não era problema deles.



Um comentário:

  1. Nossa nem me falem, tem um caso de uma vizinha da minha mãe que tinha um gato que eles meio que adotaram (davam comida e brincava com ele) ai apareceu uma gata muito bonita e carinhosa e eles acharam ela bonita e resolveram 'adotar' tbm eu avisei que a gata estava no cio e precisava ser castrada; e ninguém acreditou uns tempos depois a gata estava prenha por que eles não quisera castrar ela, resultado ela teve 6 filhotes e passava fome por que a família não dava mais ração pra ela só pro gato deles. Ela amamentava e tinha que caçar estava magra que só vendo, os filhotes cresceram e começaram a comer ração e a matriarca sumiu acredito que tenha morrido parecia doente. Tentei conversar com a família pra colocar os gatos para adoção mas a mãe da familia disse que a filha dela queria ficar com todos, sendo que eles moram de aluguel e quase não conseguem comprar ração pros gatos. Hj eles são magrinhos e agora tem 3 fêmeas que tbm vão entrar no cio, e eles não estão nem aí. Eu fico de mãos atadas por que não posso ajudar financeiramente já tenho os meus que tbm foram adotados. Vcs podem me dar alguma dica pra tentar resolver o desastre premeditado que vai acontecer? Vão ser muitos gatos num mesmo lugar passando fome e isso me deixa triste demais sem poder fazer nada :, (

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